Chegou à sua 14ª edição o tradicional evento que celebra a cultura medieval, o Odin’s Krieger Fest, que finalizou nesta terça-feira sua jornada por três estados: Paraná, Minas Gerais e São Paulo, com cinco apresentações, sendo três somente em SP. Este ano, a grande atração internacional foi o poderoso power/dwarf metal do Wind Rose, com suporte da enigmática banda de heavy metal/hard rock Dogma.
Estive presente na edição de São Paulo, que ocorreu no dia 21/07 no Carioca Club, com quatro distintas apresentações que proporcionaram uma ótima sinergia. Antes de adentrarmos nesse mérito, vale ressaltar que senti um público diferente da edição de 2023, com uma fila tranquila, bem-humorada e, ouso dizer, menos bêbados fanfarrões.
Esta edição, assim como as anteriores, contou com diversos stands trazendo a rica cultura medieval através de acessórios, vestimentas, bebidas e afins, além de apresentações de lutas com armaduras e armas da época. Foi um ótimo ponto de interação e uma alternativa para quem não quisesse “somente” assistir às apresentações, mas também conferir outros elementos ligados ao festival.
As apresentações começaram com a agitada Eldhrimnir, uma banda de “Alcoholic” Folk Metal que traz em seu tema muita energia, ritmo e pirataria, com músicas em português e um carismático vocalista bêbado fanfarrão que sabe como energizar o público. Com um bom folk movido a violão e banjo, simulações de combates entre o próprio público em “Aliança Pirata” e a reinterpretação de "Bella Ciao", Eldhrimnir foi uma escolha precisa que aqueceu o público para um ótimo início de tarde.
Na sequência, saindo da Era de Ouro da pirataria, retornamos à Europa em uma época de misticismo, ritos e bruxaria, guiados pela magia do sexteto da Yon. Este projeto estuda músicas tradicionais nórdicas, entoando-as com ritmos percussivos e vocalizações que colocaram o público em um estado de transe frente à beleza da troca cultural experienciada. Com apenas dois anos de vida, o projeto mesclou músicas tradicionais e autorais, impressionando pela variedade e complementariedade de vozes dos integrantes, como se pudessem compor qualquer trilha sonora de uma série ou jogo medieval épico.
Avançando para a época da Inquisição e a repressão da Igreja Católica sobre o feminino, fomos levados pela misteriosa banda Dogma, composta por freiras anônimas que trouxeram poderosos riffs e força vocal para uma performance energizada e sensual. Foi interessante perceber a mudança de opinião do público, que antes do show se mostrava alheio, mas após a apresentação demonstrou admiração pela presença de palco do grupo, que incluiu momentos de interação e até uma convidada performando elementos de contorcionismo.
Outro destaque foi um medley que serviu como pausa para a vocalista Lilith descansar, enquanto as demais integrantes tocaram clássicos de Pantera, Iron Maiden e Slayer, causando alvoroço no público. Essas músicas são sempre um tiro certeiro para agradar e construir uma conexão com a audiência.
Com um futuro promissor, a afeição criada pelos integrantes do Wind Rose ficou evidente quando, ao fim da performance, Claudio Falconcini trouxe um copo de bebida para um brinde em prol da banda Dogma.
E tão rápido como começou, aos poucos o público voltou a se acalmar, mas manteve a inquietação pela crescente ansiedade, pois seríamos transportados de uma narrativa medieval histórica para uma de fantasia, envolvendo dragões, povos livres e, mais especificamente, anões.
Antes de falarmos do grande headliner da noite, vale destacar a discotecagem de qualidade que trouxe grandes clássicos do folk metal, nacional e contemporâneo, nas mãos de Rodrigo Branco da KissFM. A cada música, era possível ouvir o público entoando as canções entre os momentos de pausa.
No início do festival, falando nos filhos de Dúrin, o carismático vocalista Francesco Cavalieri foi visto andando pelo evento, passando despercebido por muitos, mas parando prontamente para atender aqueles que buscaram uma rápida interação (este que vos fala incluso).
E falando deles, como não enlouquecer com uma apresentação tão frenética de começo ao fim? O setlist do Wind Rose foi recheado de bons momentos, mineração, pedras, batalhas e bebedeira. Com uma musicalidade muito característica e complementar às suas letras épicas, o show proporcionou muita diversão e agito através de pulos, danças e giros, como em uma festa dessas criaturas fantásticas.
Com um carisma extremo, era possível ver os olhos de cada integrante correndo por todos os pontos do público, com inúmeros momentos de interações, sorrisos, conversas entre músicas e o bom e velho metal. Saindo um pouco das músicas de estúdio, pudemos também testemunhar a potência vocal de Francesco, um barítono poderosíssimo que finalizava algumas falas com um canto que ecoaria por toda a mina e lascaria a pedra mais antiga.
Confesso que fazia tempo que não me sentia tão exausto após uma apresentação, reforçando a ideia de que ninguém sabe conduzir uma festa como os anões: energéticos, trabalhadores, temperamentais e muito espirituosos.
E se nada pudesse melhorar uma noite de já grande sucesso, foi no improviso que o público e a banda foram agraciados com uma chance em vinte e cinco mil: a presença de Anselmo, um homem portador de nanismo e fã da banda, que estava conosco na "grade". Com nosso auxílio e insistência, e consentimento de Francesco, Anselmo subiu ao palco para o tão aguardado refrão de "Diggy Diggy Hole", um momento mágico que trouxe o inesperado e o especial para a noite. Um momento extremamente especial para Anselmo, que viu seu sonho se realizar, ficando extremamente satisfeito com sua participação.
Com um fim surpresa regado a uma música de balada latina e a presença do Dogma no palco, ambas as bandas dançavam, bebiam e se despediam de uma inesquecível noite, concluindo uma edição muito proveitosa do Odin’s Krieger Fest na capital paulista.