Confira neste artigo um histórico dos posts racistas do canal Mil Grau e como a comunidade conseguiu que a Xbox Brasil se manifestasse contra

Após um intensa polêmica que envolveu o Canal "Xbox Mil Grau" nos últimos dias, a comunidade, que envolveu jornalistas, streamers e jogadores fizeram um enorme apelo para que a Xbox Brasil se manifestasse perante as atitudes racistas dos integrantes do canal.

Confira neste artigo uma timeline de quais ações do canal desencadearam as manifestações contrárias e como o apelo da comunidade nacional e internacional conseguiram fazer com que a empresa se manifestasse no Brasil.

Xbox Brasil se posiciona: confira o histórico

Antes das manifestações após o assassinato de George Floyd por um policial branco, a conta já era taxada de atitudes racistas em suas lives na Twitch.

Mil Grau: ações racistas na Twitch anos anteriores

Desde o início de sua existência, o Canal Mil Grau vem tendo atitudes extremamente agressivas e polêmicas.

O canal já foi inúmeras vezes acusado de racismo, injúria racial e diversos tipos de preconceitos ao longo dos anos. Há algum tempo, eles estiveram envolvidos em um caso que exigiu que jornalistas mostrassem o que chamaram de "carteirinha gamer" ou a Gamer Tag no Xbox One.

O Voxel processou o Mil Grau e ganhou a causa. O canal teve que pagar uma uma multa no valor de R$ 38,639.87 ao grupo NZN, que detém a marca.

Mas, as ações do Mil Grau ainda precisavam ser contidas. Por volta de 2018 a Xbox retirou todo apoio financeiro ao canal. Só que a marca não proibiu o canal de usar o nome dela: Xbox.

E os ataques e o sentimento de impunidade continuava.

No dia 12 de março de 2019, em uma live de Anthem, os integrantes do Mil Grau proferiram ataques, dizendo que "deveriam voltar para a senzala" e que "nunca deveriam ter deixado de serem escravos". Confira no tweet abaixo do Ricardo Regis, do Nautilus:

Em outras lives, os membros do canal novamente proferiram falas racistas, em apoio ao nazismo e ainda zombaram de que isso "entraria no dossiê futuro deles". Confira abaixo no tweet do Ricardo Regis:

Muitas pessoas se indignavam com os comentários, mas a situação se agravou mais ainda no dia 25 de maio, com o assassinato de um rapaz negro, chamado George Floyd, por um policial branco em Minneapolis, Estados Unidos.

25 de maio: assassinato de George Floyd e protestos

George Floyd - Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

A população dos Estados Unidos foi às ruas e começou a gerar um clima de revolta por vários dias de protestos que acabaram de forma violenta no país.

Isso fez com que várias empresas manifestassem seus apoios à causa e o movimento Black Lives Matter novamente foi colocado em evidência na mídia.

Por conta disso, empresas como Activision, Sony e CD Projekt Red adiaram eventos que aconteceriam esta semana, para que os noticiários pudessem ter mais espaço de sua programação para a situação que vivemos.

30 de Maio: Mil Grau faz post racista no Twitter

O clima já estava bastante tenso, quando, novamente, o pessoal do Mil Grau resolveu fazer uma postagem racista em seu Twitter:

"O que pessoas negras estão fazendo hoje / O que pessoas brancas estão fazendo hoje"

O post gerou inúmeras revoltas e a repercussão negativa já estava feita. O principal problema era: o canal tinha a marca Xbox ostentada em seu nome. E estavam proferindo postagens racistas.

Com isso, a comunidade brasileira começou a se voltar e fazer inúmeros apelos para a Xbox Brasil, que, até então, não havia se manifestado contra as atitudes.

31 de Maio: repúdio ao Mil Grau

As ações geraram inúmeras reações de repúdio da comunidade. Até a conta do Sleeping Giants Brasil, que tem cobrado ações de empresas que tem seus nomes vinculados a sites de Fake News, se manifestou sobre o assunto. Confira o tweet abaixo:

Ainda no dia 31, Gita Jackson, redatora da Motherboard Vice, entrou em contato com a comunidade brasileira, para que eles falassem um pouco sobre a situação e o post racista do Mil Grau.

1º de junho: uma nota modesta

No dia 1º de junho, a XboxBr soltou uma nota no Twitter informando que a marca prega respeito, diversidade e inclusão. Ainda incluiu que repudia todo e quaisquer atos de discriminação e violência que firam esses princípios.

A nota, apesar de sincera, não refletia uma ação concreta contra as políticas racistas empregadas nas lives e posts dos integrantes do Mil Grau. Atitudes mais contundentes deveriam ser tomadas.

O site Critical Hits entra em contato com Phil Spencer

Apesar da nota e de nenhuma ação contra o Mil Grau, Eric Arraché, fundador do site Critical Hits, entrou em contato com Phil Spencer, cobrando ações mais contundentes e relataram toda a situação para o chefão do Xbox.

Abaixo, você confere o e-mail que o Arraché enviou a Spencer:

Eric Arraché explica ao Phil Spencer a situação do canal Mil Grau no Brasil - Imagem: Reprodução/Critical Hits

Usuários pedem apoio a Jason Schreier

Um usuário do Twitter pediu ajuda a Jason Schreier, jornalista especializado em jogos, ex Kotaku, atual Bloomberg, e um dos maiores contatos internacionais da mídia com a indústria.

Schreier, que fez inúmeras matérias denunciando empresas e mantém contato direto e geralmente revela informações da indústria, se mostrou favorável à causa e pediu para que as pessoas enviassem e-mail para ele explicando toda a situação.

Inúmeros jornalistas manifestaram apoio para entrarem em contato com ele para explicar a situação. Mas, nesse meio tempo, a resposta da Xbox Brasil veio.

2 de junho: a ação da Xbox Brasil

Após toda a  mobilização nacional e internacional, a empresa finalmente soltou uma nota, na noite desta terça-feira (2), informando que o Mil Grau não reflete os valores de respeito, diversidade e inclusão. Além disso, ainda exigiu que a marca fosse removida do nome do Mil Grau. Confira abaixo:

E o recado finalmente foi dado, confira no tweet abaixo qual foi a reação dos membros do Mil Grau ao lerem a nota da Xbox Brasil:

Mesmo que tardiamente, parece que a comunidade foi ouvida e a empresa agiu diretamente, como era esperado.

Jornalistas e YouTubers manifestam-se favoráveis

Alguns jornalistas e YouTubers se manifestaram positivamente sobre finalmente a empresa lançar uma nota oficial após todo o esforço envolvido pela comunidade.

Bruna Prenilhas e Carol Costa da IGN

Vinicius Munhoz do Voxel

Rodrigo Coelho - Canal do YouTube Coelho no Japão

3 de junho: a retratação e a nova marca XMG

Mediante toda a situação causada, e a solicitação da Microsoft, o Mil Grau lançou uma nota oficial dizendo que agora se chama XMG (abreviação do antigo Xbox Mil Grau).

O problema, é que a nota dizia que eles não haviam cometido nenhum crime. Isso não foi o que apontaram inúmeros seguidores. Confira abaixo o tweet do Davi do Bacontástico:

O perfil do Twitter ainda resolveu fazer uma chacota com o nome, colocando "Não-Playstation Mil Grau #XMG" ostentando o atual nome da marca. A imagem de capa também foi porcamente borrada para retirar o nome Xbox.

Página do Mil Grau atende à solicitação fazendo chacota - Captura de tela: Matheus Bigogno/Nerdweek

À espera de um posicionamento mais intenso da Twitch

Até o presente momento, a Twitch Brasil apenas manifestou-se com um tweet ensinando seus usuários a fazerem uma denúncia de uma live ou de um canal específico. Confira abaixo:

A comunidade tem cobrado cada vez mais ações mais contundentes da Twitch no dia de hoje (3). Alguns indicaram que deveríamos parar de assistir às lives enquanto a conta do Mil Grau não fosse banida:

Inúmeros sites como Nautilus e o The Enemy e o Bônus Stage anunciaram que não farão live na Twitch até que a empresa se manifeste. Confira abaixo:

A conta oficial do Mil Grau foi banida da Twitch por 14 dias na tarde desta quata-feira (3). A confirmação veio do link de contas banidas da Twitch. Confira o tweet abaixo:

E o futuro?

E, para o futuro, a gente espera que a comunidade entenda que, se ela se unir e fizer pressão contra as empresas, vai ser de grande ajuda. Vai ser possível cobrar mudanças e mostrar que estamos insatisfeitos.

E também gostaríamos que as empresas compreendessem que a sua comunidade fala alto e ela vai exigir que a empresa melhore seus serviços e sua relação com a comunidade. As nossas vozes devem ser ouvidas.

Vidas negras importam!