O modo como uma história é abordada em um filme, definirá o sentido que a narrativa tomará e, mesmo que o intuito seja o de assombrar e entreter o telespectador, sustos por si só não são o suficiente. Como os personagens e telespectadores lidam com o desenrolar da história podem ser classificados de vários modos, não havendo filmes que caíam somente dentro de uma única categoria.
Abaixo, segue a lista sobre os vários subgêneros do terror e horror.
Psicológico
O terror psicológico, parecido com o subgênero thriller, foca nos estados mental, emocional e psicológico de seus personagens, tendo o objetivo de causar desconforto emocional na audiência, assim como aflição. Essa característica é alcançada através da discussão de vulnerabilidades e medos, seja de um grupo ou de um indivíduo, utilizando de suspeitas, falta de confiança e paranoias.
O rumo da narrativa pode ser utilizado para confundir a audiência, não apresentando todos os pontos e mostrando personagens que não se sentem seguros sobre sua própria percepção da realidade. Logo, é possível compreender que o subgênero foca em conflitos mentais, colocando os personagens em situações que envolvem o supernatural, imoralidade, assassinatos e conspirações.
Reviravoltas (plot twists) são muito presentes em filmes de terror psicológico.
Filmes como O Bebê de Rosemary (1968), dirigido por Roman Polanski, e Perfect Blue (1997), dirigido por Satoshi Kon, são filmes que demonstram as personagens principais, gradativamente, perdendo a percepção de seus arredores e duvidando de quem podem confiar.
Sobrenatural
O subgênero do sobrenatural é autoexplicativo. Filmes classificados como tal possuem elementos que vão além do que é conhecido como natural e não há meio de explicar, como fantasmas, demônios e assombrações.
Histórias que contêm elementos sobrenaturais sempre existiram, mas a primeira demonstração de sobrenatural em telas de cinema foi um curta francês dirigido por Georges Méliès, nos anos de 1890, Le Manoir du Diable (1896).
Clássicos do sobrenatural que envolvem fantasmas são Poltergeist – O Fenômeno (1982), O Exorcista (1973), Nosferatu (1922), Possessão (1981), O Iluminado (1980), A Profecia (1976) e Suspiria (1976).
Found Footage
Found footage (filmagem encontrada/gravações encontradas) é o subgênero que procura passar a impressão de documentário, geralmente sendo feito pelos próprios atores.
O gênero tem suas origens de formato na literatura em romances epistolar, a qual é baseada em formar uma narrativa através de cartas, como Drácula de Bram Stoker, publicado em 1897.
Apesar de ter sido popularizado com A Bruxa de Blair (1999), o filme que inaugurou o estilo foi o filme italiano Holocausto Canibal (1980). Outros filmes do subgênero seriam REC (2008) e Atividade Paranormal (2007).
Splatter
Filmes do subgênero splatter são indicados para telespectadores que não serão facilmente enojados ou intimidados pela violência demonstrada. Também conhecido como gore, o gênero utiliza da destruição física do corpo e a dor que acompanha, assim como foco nos visuais.
O gênero tem origem estético no teatro francês Grang Guignol, o qual demonstrava cenas sanguinolentas desde 1897 até seu fechamento em 1962. O primeiro filme a ser classificado como gore foi Intolerância (1916), sendo conhecido, também, como uma das obras-primas do cinema mudo.
Com o passar dos anos, o gênero teve seu próprio desenvolvimento, mesmo que não divergisse de sua original premissa de vísceras, sangue e desmembramentos. Psicose (1960) de Alfred Hitchcock reintroduziu filmes splatter ao público ocidental, assim como Jigoku (1960) de Nobuo Nakagawa aterrorizou o público oriental.
Dentro do subgênero splatter temos um outro subgênero classificado como torture porn (pornô de tortura), enfatizando violência, gore, nudez, tortura, mutilação e sadismo. O primeiro filme a receber tal classificação foi O Albergue (2005), dirigido por Eli Roth.
Filmes desse subgênero tendem a passar por censura se lançados em cinemas, mas ao final dos anos 2000, com o lançamento de O Albergue 2 (2007), A Serbian Film (2010) e Centopéia Humana (2009), filmes classificados como torture porn normalmente são lançados diretamente para DVD ou plataformas de streaming, como a Shudder.
Slasher
Um dos subgêneros mais conhecidos e mais famosos do terror é o slasher. Influenciados por filmes como Psicose (1968) e Peeping Tom (1960), filmes slasher tiveram seu auge na década de 70 e 80, conhecida como era de ouro do slasher, com filmes como O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978), A Hora do Pesadelo (1984), Pânico (1996) e Chucky, o Boneco Assassino (1988).
Também tendo seus fundamentos no teatro francês Grand Guignol, o filme The Lunatics (1912) usou de violência visceral, sendo um dos motivos para a passagem do Código de Hays em 1930, no EUA. Esse código foi um dos primeiros guias de condutas para o entretenimento, censurando sexualidade e violência explícitas ou “imorais”.
Outros gêneros que influenciaram o subgênero são filmes britânicos Krimi, lançados entre 1950 e 1970, adaptados de romances criminais. Tinham vilões em roupas arrojadas e acompanhados de trilhas sonoras com jazz. Assim como Krimi, o gênero italiano giallo eram casos de mistérios com toques eróticos e terror psicológico, usando de vilões mascarados e bem vestidos.
O enredo de slashers costuma ser composto de um grupo de pessoas que foge de um assassino em série. Filmes desse subgênero costumam ter a trope– situação clichê – conhecida como final girl (última garota), a qual consiste na última sobrevivente sendo uma mulher.
Filmes slasher podem ser divididos em três eras: a clássica (1974-1993), a autorreferencial (1994-2000) e o ciclo neoslasher (2001-2013).
Body Horror
Body horror (horror corporal) é um subgênero que demonstra violações gráficas ou perturbadoras do corpo humano, podendo ser utilizado como um artifício da narrativa como em slashers, splatter e no próprio gênero de horror.
As violações mais comuns são o sexo aberrante, mutações, mutilações, zumbificação, doenças e movimentos não naturais do corpo. Segundo o livro Horror Literature Through History, escrito e editado por Matt Cardin, body horror é sobre o medo do corpo e os limites da carne, sendo ambíguas em natureza: violentas e libertadoras, assim como repulsivamente belas.
Diferente de outros gêneros escabrosos e violentos, body horror apresenta o descontrole da mudança, explorando a vulnerabilidade física.
Filmes como The Blob e A Mosca, ambos lançados em 1958, já haviam apresentado elementos do body horror, tendo o foco em mutilação corporal e efeitos especiais viscerais. Assim como filmes japoneses clássicos Tetsuo: O Homem de Ferro (1989), em que o personagem principal sofre uma mutação que transforma seu corpo em várias partes de metal – seu pênis vira uma furadeira - e a animação Akira (1988), dirigido por Katsuhiro Otomo, e aclamado mundialmente, explorando a figura do corpo adolescente como local de transformação.
Trash
Filmes do subgênero trash (lixo) são filmes que apresentam falta de qualidade técnica ou visual com exageros em seus acontecimentos, principalmente em relação ao uso de artifícios técnicos.
Filmes trash podem ser divididos em duas categorias: os que possuem violência gratuita e sanguinolência, e filmes que não se levam a sério, beirado o cômico. Alguns filmes trash podem ser classificados como splatter, como o caso de A Morte do Demônio (1981 e 2013) que é considerado um dos melhores filmes de terror já feitos, assim como seu original foi e ainda é proibido de circulação em alguns países.
Filmes antigos de terror, em comparação com os atuais têm uma pobre qualidade em relação aos efeitos especiais, logo muitos recebem a classificação de trash, mesmo que tenham sido considerados amedrontadores na época de seu lançamento. Filmes desse tipo seriam A Coisa (1985), Baile de Formatura (1980) e A Vingança de Jennifer (1978).
Filmes considerados cômicos, mesmo que sanguinolentos, são os clássicos em que objetos ou comidas ganham consciência e passam a matar seres humanos, exemplos sendo O Ataque dos Tomates Assassinos (1978) e Rubber: O Pneu Assassino (2010).
Outros filmes que apresentam qualidade duvidosa em sua escolha de roteiro são os que utilizam animais como seus vilões, sendo esses Sharknado (2013), Piranha (1978) e Boar: Fera Selvagem (2018).
Cósmico
Também conhecido como terror lovecraftiano inspira-se nas histórias de H.P. Lovecraft, tratando de histórias que envolvem fenômenos relacionados à influencias não humanas, o oculto, destino e o inevitável, e os riscos de descobertas científicas.
As histórias de Lovecraft foram inspiradas por autores góticos, como Edgar Allan Poe, e possuem características como o medo do desconhecido ou o que não se pode ser conhecido, da insignificância humana em relação ao universo, protagonistas que são impotentes frente ao incompreensível e inescapável, e uma preocupação latente com texturas próximos ao gel ou slime.
Várias obras foram criadas para o cinema, baseadas em histórias de Lovecraft, sendo A Cor que Caiu do Espaço (1927) a mais utilizada para adaptações, exemplos sendo Die, Monster, Die! (1965), The Curse (1987) e o filme homônimo de 2019.
Apesar de sua classificação como splatter cômico, A Morde do Demônio (1981) e seus filmes subsequentes, utilizam do livro dos mortos, citado em contos de Lovecraft, o Necronomicon.
Nos anos 2000, surgiram diversos filmes que se aventuraram no horror cósmico, como O Nevoeiro (2007), baseado no romance homônimo de Stephen King, publicado em 1985, o qual foi baseado em monstros lovecraftianos. Em 2005, a H.P. Lovecraft Historical Society lançou um filme mudo, preto e branco, adaptado do conto O Chamado de Cthulhu, publicado em 1928.
Em 2018, foi lançado o filme Aniquilação, estrelado por Natalie Portman e Tessa Thompson, baseado no livro de Jeff VanderMeer, o qual teve influência em temas lovecraftianos e a incompreensão de forças vindas do espaço.
O filme O Farol (2019), estrelado por William Dafoe e Robert Pattinson, é visto como influenciado por esses temas por sua atmosfera sufocante, imagens de monstros do fundo do oceano e o poder que o farol tem de levar os personagens à insanidade.
William Eubank, diretor do filme Ameaça Profunda (2020), o qual tem Kristen Stewart como protagonista, confirmou que as criaturas do fundo do oceano, demonstradas no filme, são relacionadas ao mito do Cthulhu.
Cômico
Esse subgênero do terror apresenta a característica de combinar o horror com a comédia, sendo classificado como paródia e humor negro. São conhecidos por brincar com clichês de filmes de terror ou reinventar uma história de um jeito cômico.
A abordagem da comédia nesse subgênero permite que a audiência ria de seus medos e passe senso de segurança ao rir do absurdo que é a morte eminente e ridícula.
Filmes nessa categoria seriam os filmes da franquia Todo Mundo em Pânico (2000), A Mansão (2017), Todo Mundo Quase Morto (2004) e O Segredo da Cabana (2011).
Teen
Terror adolescente pode ser visto como um subgênero dos subgêneros, visto que a característica mais proeminente é a de que os personagens principais são adolescentes. Alguns filmes que se encaixam em outros subgêneros, principalmente em slasher, mas que atendem a essa característica são Halloween (1976), A Hora do Pesadelo (1985) e Natal Sangrento (1974).
Filmes de terror adolescente, também costumam apresentar uma atmosfera mais descontraída que pode beirar à cômica, sendo classificado como um terror leve. Alguns exemplos seriam a trilogia Rua do Medo (2021), A Babá (2017), a franquia Premonição (2000) e Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro (2019).