Nesta semana, fomos impactados por uma notícia chocante e, ao mesmo tempo, previsível. Quase toda a equipe de jornalismo do Jovem Nerd foi demitida. Um choque, sim. Mas o espanto maior não está apenas no desligamento em massa. O que realmente chama atenção é ver isso acontecer justamente em um dos maiores ícones da cultura nerd no Brasil, um símbolo da migração da mídia tradicional para o digital, que agora se curva às transformações implacáveis do mercado de conteúdo.

Como um portal independente, que há 12 anos se mantém no ar com esforço, apoio comunitário e dedicação, nós, do NerdWeek, acompanhamos com pesar o desmonte de uma redação que era uma referência.

O Jovem Nerd, antes da compra pela Magalu, representava um ponto de encontro para uma geração apaixonada por cultura pop, tecnologia, literatura fantástica e ficção científica. Ao lado de outros pioneiros, como o Cinema com Rapadura, ajudou a consolidar o podcast como meio de comunicação no Brasil. O NerdCast, inclusive, abriu caminhos para toda uma leva de criadores.

Com o passar dos anos, o cenário mudou. E o jornalismo voltado à cultura pop, especialmente o textual, começou a perder espaço diante da ascensão de formatos mais curtos e imediatos, ditados pelas redes sociais e seus algoritmos.

De acordo com o Digital News Report 2023, do Reuters Institute, mais de 64% dos jovens com menos de 35 anospreferem consumir notícias em vídeo a ler textos. No Brasil, o TikTok já ultrapassa os 100 milhões de usuários ativos, e vem sendo cada vez mais citado como fonte principal de informação. Em muitos casos, porém, o conteúdo ali veiculado não passa por checagem, nem apresenta contexto ou compromisso com a verdade.

Além disso, segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a circulação de jornais impressos caiu 80% nos últimos dez anos. A queda da leitura em ambientes digitais também acompanha esse fenômeno, à medida que plataformas como Instagram e TikTok concentram a atenção dos usuários em vídeos curtos, de fácil consumo e alto impacto emocional.

Dentro desse panorama, o conteúdo jornalístico escrito — aquele feito com apuração, revisão e cuidado — começa a se tornar invisível aos olhos do algoritmo. A lógica de alcance privilegia o que viraliza. E o que viraliza, quase sempre, é o mais raso, o mais rápido, o mais provocativo. Há menos espaço para reflexão e mais para o impacto imediato.

Nesse cenário, a demissão em massa do time jornalístico do Jovem Nerd se torna ainda mais representativa. Embora hoje o portal pertença a um conglomerado, a Magalu, que também adquiriu o Canaltech e a Kabum, a decisão de cortar toda uma equipe não é apenas administrativa. Ela é também simbólica. Marca a rendição a uma lógica de mercado que não prioriza o conteúdo, mas sim o engajamento. Que não valoriza a construção de comunidade, mas sim o alcance numérico, a viralização e o engajamento seja pelo “meme”, seja pelo discurso de ódio que outrora só ganhava força e tinha eco nos confuns da deepweb. E, no meio desse processo, talentos são descartados e projetos editoriais inteiros são deixados para trás.

Chamam isso de "fim de ciclo". Mas a verdade é que esse tipo de fim não abre espaço para recomeço. Abre apenas caminho para o esquecimento.

Do nosso lado, seguimos resistindo. O NerdWeek nasceu do amor pela cultura pop, mas também da crença de que ela pode e deve  ser tratada com seriedade, sensibilidade e crítica. Trabalhamos com independência, enfrentando limitações orçamentárias e a maré difícil que é manter uma redação em funcionamento em um ambiente onde tudo é acelerado e descartável.

Não fazemos isso por status ou dinheiro. Fazemos porque acreditamos que ainda há valor no conteúdo feito com responsabilidade. Acreditamos que nem tudo precisa ser resumido em quinze segundos. Que o leitor ainda merece ter acesso a mais do que manchetes. Que há espaço, sim, para textos que informam, explicam e instigam.

É por isso que, mesmo diante de mais esse golpe, não recuamos. Observamos o que aconteceu com o Jovem Nerd com tristeza, mas também com alerta. O que aconteceu com eles pode acontecer com qualquer um de nós. Porque a crise não é de um portal específico. É de todo um modelo de comunicação.

Enquanto for possível, estaremos aqui. Com ou sem o favor do algoritmo. Com ou sem os holofotes.

Porque informar é, também, uma forma de resistir.