O Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta neste sábado, 30, às 16h, o documentário Fantasia Exata - Waldemar Cordeiro. O filme-conceito foi idealizado por Gregoire Cordeiro e tem roteiro, direção e produção de Analívia Cordeiro, filha de Waldemar Cordeiro (Roma, Itália 1925 - São Paulo, São Paulo, 1973). O artista tem 15 obras expostas em ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos, em cartaz no MAM São Paulo. As inscrições para esta atividade gratuita devem ser feitas no site do museu.

"Waldemar Cordeiro foi mais do que um artista. Foi crítico de artes, fomentador cultural, paisagista e urbanista. Entrou para a história da arte brasileira e mundial pela sua contribuição marcante. Waldemar Cordeiro foi acima de tudo um humanista". Essa afirmação marca o desfecho do documentário, que tem também a consultoria do fotógrafo Bob Wolfenson.

"A exibição faz parte da programação da mostra em cartaz no MAM e resgata a história de Cordeiro, que liderou o grupo ruptura e é um artista e teórico fundamental no cenário da arte concreta no Brasil", afirma Cauê Alves, curador do museu.

Para além da contextualização dos feitos do artista, o documentário exemplifica as suas teorias, posicionando-o na história da arte e ilustrando como sua vida pessoal e crenças pautaram a própria pesquisa e prática artística.

A obra audiovisual apresenta uma narrativa cronológica e traz depoimentos de diversos pesquisadores e testemunhas, dentre eles dos historiadores Maria Luiza Tucci Carneiro, Heloisa Espada, Margit Rosen, Fernando Cocchiarale, Adele Nelson e Rachel Price, bem como do neurologista André Macedo, do arquiteto Givaldo Medeiros, do artista e amigo Augusto de Campos e do irmão, o urbanista Luiz Alberto Cordeiro.

Ficha técnica

Waldemar Cordeiro - Fantasia Exata

Duração: 1h 7min

Idealização: Gregoire Cordeiro Belhassen

Roteiro e Direção: Analivia Cordeiro

Produção: Analivia Cordeiro, Luciana Brito Galeria, Luli Hunt Cidadania Corporativa

Consultoria: Bob Wolferson

Trilha Sonora: Rodolpho Grani Jr

Edição: Matheus Gonçalves

Sobre ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos

Em cartaz até o dia 3 de julho, ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos realiza uma releitura da exposição histórica do grupo Ruptura, que aconteceu no MAM São Paulo em 1952 e teve duração de somente 12 dias. Naquela ocasião, o grupo lançou um manifesto homônimo, que defendia novos paradigmas para a arte. O documento e a exposição apontaram diretrizes para a formação da arte concreta brasileira ao longo da década de 1950.

Com curadoria de Heloisa Espada e Yuri Quevedo, a mostra propõe uma revisão crítica do legado da arte construtiva no Brasil. O manifesto Ruptura criticava a figuração e, sem mencionar uma única vez os termos “abstração” ou “arte concreta”, apontava para essas linguagens como sendo "o novo" na arte. Em 2022, o conjunto de obras expostas traz à tona novas reflexões, questionamentos e análises. Para a curadora Heloisa Espada, "​​Olhar para o grupo Ruptura hoje não significa aderir sem crítica às ideias apresentadas nos anos 1950, mas considerar as circunstâncias de seu aparecimento, assim como as várias contradições entre o que os artistas escreviam e aquilo que eles faziam. Ainda assim, a pesquisa visual desses artistas tinha uma conotação libertária, pois se propunha a imaginar novas formas de organizar o mundo no pós-guerra."

Os artistas do Ruptura adotaram uma linguagem geométrica de cores vibrantes que não se confundia com as imagens da natureza. A proposta de uma arte não figurativa, que não representasse as aparências do mundo, buscava criar uma relação franca e direta com a realidade. Para eles, na arte, apenas elementos visuais como cores, linhas e formas poderiam ser de fato considerados reais, pois eles não simulavam nenhuma aparência, eram eles mesmos. Além disso, em suas obras, a repetição de formas e a adesão às leis da teoria da percepção conhecida como Gestalt criavam uma forte sensação de movimento e ritmo visual. A ideia de movimento projetava o dinamismo que os artistas do Ruptura desejavam ver na sociedade brasileira.


Em um primeiro momento, ruptura e o grupo: abstração e arte concreta, 70 anos aborda a mostra original do grupo Ruptura no MAM, em 1952, por meio de um conjunto de documentos e de obras realizadas pelos artistas no início daquela década. Entre elas estão duas pinturas que estiveram na exposição histórica: Desenvolvimento ótico da espiral de Arquimedes (1952), de Waldemar Cordeiro, e Vibrações verticais (1952), de Luiz Sacilotto.

Em seguida, a exposição aborda a produção do grupo ao longo da década de 1950, quando alguns artistas se afastam e novos nomes se aproximam do Ruptura, como Judith Lauand, por exemplo. “Há uma discussão se o grupo Ruptura existiu como tal apenas na exposição de 1952, ou se ele tem uma duração mais longa. Essa dúvida se esclarece quando lemos os depoimentos dos artistas que entraram depois, e seguiram se referindo a eles mesmos como parte do Ruptura. Também percebemos a proximidade ao olhar para as obras, porque há entre elas uma coerência de preocupações e uma coincidência dos problemas que enfrentam”, explica Yuri Quevedo.

Durante a década de 1950, os artistas participantes são Anatol Wladyslaw; Geraldo de Barros; Hermelindo Fiaminghi; Judith Lauand; Kazmer Féjer; Leopold Haar; Lothar Charoux; Luiz Sacilotto; Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro.

A mostra conta com obras raramente vistas de Haar, que estão guardadas em acervo familiar desde que o artista faleceu, em 1954, não tendo sido exibidas em nenhum local desde então. Heloisa Espada aponta que por existir um limite tênue entre as esculturas que produzia e as maquetes de projetos para vitrines, “Haar é um dos artistas que melhor exemplifica a proposta do Ruptura de que a arte deveria ter uma aplicação prática na vida das pessoas”. Quevedo acrescenta que "O grupo defendia a abstração como projeto de transformação, capaz de permear o cotidiano das pessoas, influenciando a indústria e organizando a vida em suas mais diversas escalas: das artes plásticas ao design, da arquitetura à cidade."

“Depois de antecipar as discussões sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 no ano passado, a programação do MAM em 2022 reflete sobre uma outra geração de artistas modernos que estão intimamente ligados à história do museu. Trata-se de um grupo que participou ativamente dos primeiros anos do MAM e que tinha um ideal utópico que revela muito do ambiente cultural em que o MAM foi criado”, discorre Cauê Alves, curador-chefe do MAM São Paulo.

“A mostra sobre o grupo Ruptura, além de dar visibilidade a artistas tão importantes na invenção da arte concreta e no abstracionismo geométrico no Brasil, revê um momento fundamental da história da arte e da história do MAM. São poucas as instituições culturais que podem, 70 anos depois, revisitar uma exposição que ela mesma realizou”, diz Elizabeth Machado, presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Artistas

Anatol Wladyslaw; Geraldo de Barros; Hermelindo Fiaminghi; Judith Lauand; Kazmer Féjer; Leopold Haar; Lothar Charoux; Luiz Sacilotto; Maurício Nogueira Lima e Waldemar Cordeiro.