Análise: The Callisto Protocol vale a pena?
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Fãs de survival horror foram completamente surpreendidos quando o primeiro trailer de The Callisto Protocol foi exibido. Não era para menos, especialmente porque sabíamos que o projeto era encabeçado por Glen Schofield, uma das mesmas mentes por trás de um título completamente conceituado entre os fãs do gênero: Dead Space.
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Com essa premissa e tamanha expertise no desenvolvimento de narrativas de terror, parecia certo que a nova experiência conseguiria ser completamente inovadora, e não uma sombra de seu antecessor espiritual.
Mas, será que era esse mesmo o futuro que o título enfrentaria? Além disso, há de se colocar na balança o peso desse projeto, quando olhando para o lado da Krafton, a sua publicadora.
Responsável por títulos como PlayerUnknown Battlegrounds e PUBG New State, é notável que é a primeira vez que a empresa teria um foco distante de jogos de serviço e focar em um jogo mais linear.
Será que todo o universo conspirando a favor e com toda a dúvida gerada em torno do título conseguiria agradar aos fãs? É com essa premissa que começamos nossa análise de The Callisto Protocol. E o que a gente achou, você pode conferir logo abaixo!
A história de The Callisto Protocol
Em 2320, Jacob é um piloto de cargas que tem seu destino completamente mudado após sua nave ser invadida por uma mercenária chamada Dani Nakamura. Tentando se livrar da ameaça, a nave do piloto cai em Callisto, uma das luas de Júpiter.
O acidente acaba fazendo com que ele seja levado junto com Nakamura para a prisão Black Iron, onde ele estaria destinado a passar o resto da eternidade. Mesmo sem entender o motivo de estar lá, Jacob segue seu caminho até que um surto na cadeia transforma presos e agentes em mutantes alienígenas.
Ao fugir dali, Jacob se encontra com alguns companheiros, como Elias Porter, e alguns inimigos, como o temido Capitão Leon Ferris. No entanto, o caminho até a fuga pode ser mais sombrio do que ele imagina.
Atuações de peso
Estrelado por Josh Duhamel, que atuou em projetos como Transformers e Karen Fukuhara, a Kimiko de The Boys, o elenco de peso ainda conta com algumas aparições bem especiais.
Zeke Alton é Elias Porter e Sam Witwer, estrela de de Smallville que deu a vida a Deacon em Days Gone. Com esse elenco de peso, já era de se esperar que as interpretações não deixariam a desejar.
E não deixaram mesmo, todos os atores e atrizes entregaram tudo de si para os seus personagens. Já é muito difícil fazer uma interpretação convincente em um filme de terror normalmente, imagine captando a voz e fazendo a captura de movimentos em um ambiente que não propicie nada disso.
Visto posto, é com muita satisfação que digo que a ambientação e as atuações casam perfeitamente. Tudo isso é graças a um trabalho sem tamanho de várias equipes, mas principalmente da direção.
The Callisto Protocol parece completamente vivo, com personagens reais que reagem às suas situações ao seu redor. Eles não são passivos ou inexpressivos.
Jogos de terror exigem boas narrativas
Como sempre pontuo em análises de jogos de terror: não tem muito para onde fugir. Todo jogo de terror acaba caindo no panteão de mecânicas e level design padrão.
Algo dá errado, o protagonista precisa sair de lugar x e ir até y. Lá, ele percebe que a passagem está bloqueada e precisa de uma chave, que será buscada em z. Então, ao ir para z, tem mais inimigos, umas boss fights e só depois ele volta para y.
Enfim. A fórmula está aí, mas seguir a fórmula nunca foi receita do sucesso. Felizmente, The Callisto Protocol segue essa fórmula mas sem saturá-la demais.
Enquanto jogos de terror tentam fazer essa jornada de x a y ser muito grande e complexa, The Callisto Protocol foca em coisas simples. Esse foi um dos meus maiores estranhamentos, mas também uma das minhas maiores alegrias.
Não era raro você ter seu caminho desviado, onde eu pensava "meu deus, vai demorar horrores para achar a chave... uai, ela já tá aqui?". Sim, a volta era uma volta, mas não era um atraso, era só um leve desvio mesmo, nada pra prolongar desnecessariamente a história.
Por isso, como as mecânicas já são batidas e tudo isso já era esperado, a maior ansiedade mesmo fica para a trama. E, como você viu acima, não só a trama foi bem construída e apresentada, como todos os atores e atrizes deram vida aos personagens.
Você pode perceber o medo, tensão, ódio, cansaço e frustração na fala de todos eles.
A mecânica de The Callisto Protocol
Mecânicas fluidas, bem construídas e que tornam a vida dos jogadores fácil nunca foram e nunca vão ser o forte de jogos do tipo survival horror. Mas não tome isso como uma crítica negativa.
The Callisto Protocol embora possua uma mecânica fluida, satisfatória, ainda assim não é tão responsiva quanto se espera de um action adventure. Isso torna o jogo bem mais difícil em sua esquiva e acerto de golpes.
Ou seja, você deve planejar muito bem as esquivas e golpes com o bastão. Até mesmo nas aberturas com a pistola, é preciso decidir rápido quando usá-las ou não.
O jogo possui vários aprimoramentos de armas, bem como receitas de armas que podem ser compradas e impressas em impressoras 3D espalhadas pela prisão.
Assim como em Dead Space, quanto mais armas você possui, mais armas e recursos tem que administrar. Isso vai desde no carregamento de munição, coletáveis que podem ser vendidos, baterias para o GAR (uma luva que permite lançar objetos e inimigos para longe).
Ou seja, uma dica que eu te dou é: escolha no máximo três. Não leve todas, pois a chance de ficar sem munição e recursos é muito grande. Isso se reflete até nos aprimoramentos que você precisa fazer.
Eu escolhi o bastão, a pistola e a luva. Acabei nem imprimindo as outras para jogar normalmente (óbvio que depois imprimi pra testá-las). Mas para o gameplay normal eu optei por usar apenas as três.
É um Dead Space sem Dead Space no nome
Como nada está isolado no vácuo, é inegável a comparação de The Callisto Protocol com Dead Space. E, olhando assim de cara, há diversas semelhanças entre eles que os desenvolvedores não pretenderam esconder:
- Uma estação espacial infectada por uma espécie de vírus alienígena. Em Dead Space era a Ishimura, em Callisto Protocol é a prisão Black Iron;
- Um protagonista misterioso;
- Interfaces diegéticas (ou seja, a interface pode ser vista nos itens do cenário);
- Muito gore e mutilação e isso impacta ativamente na mecânica do game.
Enfim, a lista é vasta, mas o meu foco aqui não é bem elencar o que torna um sucessor espiritual do outro. Embora, na Bíblia, Jacob (Jacó) seja filho de Isaac, o game se esforça e muito em mostrar que um não é filho do outro.
Apesar de ser um sucessor espiritual, o game se distancia de Dead Space
Mesmo que The Callisto Protocol tenha bebido da mesma fonte e da mesma essância, os jogos são completamente diferentes e cumprem propósitos diferentes. Dead Space focava bem mais na atmosfera e tirava o foco de seu protagonista, mesmo que toda a história girasse em torno dele.
Inclusive, esse é um dos maiores problemas de se ter um protagonista que não fala. Como ter empatia com alguém que passa por tudo que o Isaac passa e não xinga, não fica sujo, não sua?
Com Jacob, isso já é bem diferente. Ao passar por esgotos fedidos, ser levado por uma enxurrada, passar frio, calor, tudo isso é demonstrado pelo protagonista, não só nas falas, mas nas suas expressões.
Ao estar em ambientes claramente mais quentes, é possível ver o suor de Jacob escorrendo e ele se limpando. Inclusive, ele se limpa após o sangue de alguns inimigos respingar nele depois de uma carnificina feita com algum mecanismo.
Jacob fica claramente fulo da vida ao cair sem querer no esgoto. Ao se encontrar com Elias, ele comenta "nossa, eu estou fedendo" claramente irritado pela situação à qual foi submetida.
Vendo por esse lado, fica fácil você se identificar com um personagem, algo completamente diferente do que o que acontecia com Isaac. É esse dinamismo que faltava para que a história tivesse um impacto muito maior do que somente descobrir se sua esposa está viva ou não.
O jogo tece algumas críticas
Embora seu pano de fundo não tenha sido projetado para servir única e exclusivamente de críticas, é inegável as críticas ali veladas contra o sistema prisional. Embora todos que estejam ali sejam culpados, mesmo que tudo indique o contrário, há uma força e uma brutalidade policial completamente desproporcional por parte dos agentes de Black Iron.
Negar isso é fechar os olhos para o problema prisional visto nos Estados Unidos, onde as prisões são feitas para darem lucro. Ou seja, as pessoas podem ter cometido erros, mas a linha moral não é preta no branco, ela é bem mais tênue.
The Callisto Protocol vale a pena?
Como um assíduo fã de jogos de terror, é inegável dizer que The Callisto Protocol vale muito a pena. Porém, é possível que o preço seja um impedidor para algumas pessoas — o foco maior deve ser esperar uma promoção.
No entanto, não se deixe enganar. The Callisto Protocol pode até se parecer muito com Dead Space, mas ambos são jogos diferentes e com propostas diferentes. Eles apenas têm elementos em comum, porque foram feitos pela mesma pessoa.
Com um enredo coeso e bem escrito, somado a uma gameplay fluida de movimentos, combos e uma série de animações de mortes únicas, o game com certeza deixará a sua marca entre os fãs.
A análise de The Callisto Protocol foi feita com uma cópia gentilmente cedida pela Krafton.