Nossa análise completa de Death Stranding 2: On the Beach. Mais que um review, um relato sobre a história de Sam, o luto e a conexão. Veja se o novo jogo de Kojima vale a pena e entenda sua emocionante narrativa. Contém spoilers completos da trama.

Introdução: Mais que um Review, um Desabafo

Esqueça as análises sobre jogabilidade, gráficos ou a expansão do universo de Kojima. Este não é esse tipo de texto. O que se segue é o relato mais pessoal que já escrevi, porque a jornada de Sam Porter Bridges em Death Stranding 2: On the Beach se tornou, de forma inesperada e brutal, um espelho para o meu próprio luto. Para a dor da perda de um amigo que era um irmão, levado de forma tão súbita. Este texto é um desabafo. É uma tentativa de mapear essa dor usando a história de Sam como guia. Por essa razão, está carregado de revelações completas da trama. Para tocar na alma da história, e na minha, é preciso contá-la por inteiro.

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Episódio 1: Prólogo - Um Retrato na Areia

Toda grande tragédia começa com um período de paz. A nossa memória afetiva precisa de um "antes" para poder medir o tamanho do "depois". Vimos Sam (Norman Reedus) conquistar essa paz a duras penas. O homem recluso, definido por seus traumas – sua Hafefobia (o pavor irracional do toque) e sua Necrofobia (o medo da morte e dos mortos) – havia encontrado um refúgio. Em uma vida simples, longe de tudo, ele criava sua filha, Lou. Aquele retrato de felicidade era frágil como um castelo de areia, e a maré, inevitavelmente, estava subindo.

Episódio 2: O Chamado e o Último Presente

É quando Fragile (Léa Seydoux) retorna que a maré começa a virar. Ela traz consigo o chamado para uma última missão, uma proposta que o jogo nos permite recusar, apenas para nos mostrar, com a insistência de um loop melancólico, que certas convocações na vida não são opcionais. Antes da partida, porém, um ato de beleza e serenidade lancinantes. Uma mensagem póstuma de Deadman (Guillermo Del Toro), que celebra ter encontrado seu propósito e nos deixa um último presente. Não um item, mas um gesto: a missão de imunizar Lou. Em um mundo assolado por uma praga invisível e em nosso próprio mundo, tão frequentemente assombrado pelo obscurantismo, a vacina se torna um símbolo poderoso. Um manifesto do cuidado, da ciência e do amor pragmático como a mais alta forma de proteção.

Episódio 3: O Som do Silêncio

A violência irrompe sem aviso. O ataque ao abrigo é rápido, brutal, impessoal. E então, o resultado. O mundo se torna um vácuo sonoro. Lou se foi. Não há mais Ka (alma), nem Ha (corpo). A narrativa nos nega até mesmo um corpo para velar. O que resta é apenas a ausência. Um silêncio que ensurdece, um espaço vazio onde antes havia vida. É a representação perfeita do choque inicial da perda, o momento em que o chão desaparece e flutuamos no nada, incapazes de processar a nova geografia de um mundo sem a pessoa que amamos.

Episódio 4: O Fantasma que Carregamos

É aqui que a jornada de Sam se torna a minha. Ele insiste em carregar o pod de BB, agora vazio. Mas para ele, não está. Dentro da sua dor, ele projeta a imagem de um BT de Lou, um fantasma translúcido que só ele pode ver. Aquilo é a Negação em sua forma mais pura, um escudo psíquico contra a realidade insuportável. É a Barganha silenciosa de um pai que se agarra a um espectro para não ter de encarar a finalidade da morte.

Essa necessidade de manter uma conexão, por mais etérea que seja, eu a conheço intimamente. É o mesmo impulso que me leva, repetidamente, a abrir o histórico de conversas com meu amigo Silvio, que partiu. A ação de Sam na tela tornou-se um espelho da minha. Ele olhava para o pod e via um fantasma para se convencer de que Lou ainda estava com ele. Eu olho para a tela do celular e leio suas palavras para ouvir sua voz mais uma vez, numa tentativa desesperada e amorosa de me prender à sua existência aqui na Terra.

Aquele pod é o nosso histórico de conversas. É um relicário sagrado e pessoal. Carregar esse "fantasma" é um ato de isolamento profundo, mas também de pura sobrevivência.

Episódio 5: Atravessando o Mar de Alcatrão

A jornada a bordo do Magellan é a travessia por esse mar de luto. A tripulação, um grupo de almas igualmente fraturadas, oferece um suporte silencioso. É Dollman (Fatih Akin), ele mesmo um Ka sem Ha, que se torna a voz da razão empática. Ele não minimiza a dor de Sam; ele a reconhece. Em contraponto, os antagonistas, liderados por um Higgs (Troy Baker) consumido pelo ressentimento, buscam o "Last Stranding" – uma paz através da aniquilação. Eles representam a tentação de acabar com a dor eliminando a própria vida. A jornada de Sam, por outro lado, é a escolha mais difícil: atravessar o sofrimento para encontrar um novo motivo para viver.

Episódio 6: A Verdade em Múltiplas Camadas

A verdade, quando chega, vem para destruir e reconstruir. A primeira camada, por Dollman: o pod sempre esteve vazio. A negação é forçada a ceder. A segunda, estarrecedora: a enigmática Tomorrow (Elle Fanning) é Lou, envelhecida pelo tempo disforme da Praia. O mundo vira de cabeça para baixo. A terceira, a mais devastadora: Lou é sua filha biológica com sua falecida esposa. A dimensão do luto de Sam se expande retroativamente. Ele não perdeu apenas a criança que criou; ele perdeu a infância inteira da filha que ele nem sabia que havia sobrevivido. É o ápice de sua tragédia e, paradoxalmente, a semente de seu renascimento.

Epílogo: O Amanhã

O confronto final não é sobre salvar o mundo. É sobre um pai lutando para garantir o amanhã de sua filha. E é ela, Tomorrow, quem desfere o golpe final, um ato de agência que a define. O epílogo não oferece um final feliz, mas algo infinitamente mais valioso: um recomeço. Complicado, cheio de lacunas, mas real. A cena final, com ela pronta para continuar o trabalho do pai, é a prova. A dor não desapareceu. Ela foi integrada, transformada em propósito, em legado. Em esperança.

Gameplay: O Peso do Fardo Ficou Mais Leve?

Enquanto a narrativa nos afunda em questões existenciais, a jogabilidade de Death Stranding 2 busca refinar a fórmula que dividiu opiniões. O ato de atravessar o mapa, o cerne da experiência, continua sendo uma meditação sobre esforço e recompensa, mas agora com ferramentas que agilizam e diversificam a jornada. A adição do navio Magellan, capaz de navegar pelo mar de alcatrão, cria hubs móveis e altera drasticamente a escala da exploração intercontinental. Novos veículos e exoesqueletos oferecem soluções mais robustas para os terrenos impiedosos do México e da Austrália. O combate também foi expandido; enfrentar os novos e ágeis inimigos robóticos exige mais estratégia do que os confrontos do primeiro jogo, tornando cada invasão de território inimigo um quebra-cabeça tático. A essência de carregar o fardo permanece, mas Kojima nos deu mais formas de escolher como fazê-lo.

Gráficos e Som: A Beleza Desoladora de Kojima

Visualmente, Death Stranding 2 é um espetáculo melancólico. A Decima Engine, aprimorada para o PlayStation 5, pinta paisagens de uma beleza desoladora com detalhes impressionantes. Dos desertos áridos a florestas petrificadas e costas rochosas, cada ambiente conta uma história de um mundo que parou no tempo. A direção de arte, combinada com a captura de performance impecável do elenco, confere um peso e uma humanidade incríveis a cada diálogo. E, como esperado, a trilha sonora é uma protagonista silenciosa. As músicas licenciadas surgem nos momentos perfeitos de solidão e contemplação, enquanto a composição original embala a tensão e a emoção, transformando longas caminhadas em momentos de pura catarse audiovisual.

Veredito: Afinal, Vale a Pena Jogar Death Stranding 2?

Sim. Mil vezes, sim. A jornada de Sam me deu um vocabulário para o indizível, um mapa para o território desolado do luto. Este não é um dos melhores jogos que já joguei. É, para mim, o jogo. Aquele que me encontrou no momento certo e me ajudou a entender como continuar carregando meu próprio fardo. E, de vez em quando, até sorrir com ele.

In Memoriam Silvio Dias Junior, meu irmão de Ka.

“Raindrops keep falling on my head But that doesn't mean my eyes will soon be turning red Crying's not for me 'Cause I'm never gonna stop the rain by complaining Because I'm free Nothing's worrying me”