Warcraft 3 vs Age of Empires 2: como "reforjar" um clássico da maneira correta
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O dia 28 de janeiro de 2020 ficará para sempre marcado na vida do mundo gamer. Mais especificamente da comunidade de jogos RTS, como o dia de lançamento de um dos maiores fiascos da indústria de jogos eletrônicos: Warcraft 3: Reforged, ou W3:R para os íntimos. Bugs, crashes e promessas falsas fizeram (e ainda fazem, até o momento de escrita desse texto) a cabeça de milhões de fãs da franquia milionária da Blizzard.
Porém, cerca de um ano antes, em 14 de novembro de 2019, outro grande clássico da estratégia em tempo real ganhava uma repaginada definitiva em sua história: Age of Empires 2: Definitive Edition. A curta distância dos dois lançamentos torna impossível não comparar o tratamento e a polidez que as duas empresas utilizaram em seus produtos, ainda mais se considerarmos a não-tão-pequena diferença entre a fanbase de cada um deles.
Promessas falsas e péssima renovação gráfica
Warcraft 3: Reforged
Warcraft 3: Reforged foi anunciado na Blizzcon de 2018 com a demo de um dos capítulos mais emblemáticos de sua campanha: o expurgo de Stratholme, que marca definitivamente a "virada" do protagonista Arthas Menethil para um lado mais sombrio. O público foi a loucura (assim como o autor deste texto) com os novos gráficos e a cinematic exclusiva e inédita. O que se sucedeu no lançamento do jogo é possível conferir no vídeo abaixo. Deixo a conclusão por conta do leitor:
Além disso, foram prometidas:
- Cerca de quatro horas de cinematics inéditas ou repaginadas do jogo clássico;
- Releitura do storytelling da campanha, acrescentando mais relevância a personagens que se consagraram no World of Warcraft, como Jaina e Sylvannas, além de renovar alguns conceitos para ficar mais alinhado à lore do MMORPG;
- Gráficos novos em resolução (de até) 4K, além de novas animações;
- Sistema de ranking multiplayer moderno e similar a outros produtos da empresa.
Parece ser de propósito, mas o que foi entregue em 2020 foi quase o oposto: tirando o vídeo de abertura da campanha e o duelo de Arthas e Illidan no fim, praticamente todas as mesmas posições e ângulos de câmera das cinematics originais foram utilizadas, além da exata mesma campanha com pouquíssimas mudanças apenas nos cenários.
As animações estão travadas em poucos fps (em pleno 2020, meus amigos!) e o multiplayer não tem sistema de ranking. A única promessa mantida foram os gráficos, esses sim melhorados e alguns até bonitos, mas existe a impressão de que, por exemplo, Starcraft II, lançado vários anos antes, está mais polido e bem feito que o jogo de 2020. Além disso, jogadores relataram diversos problemas com resoluções mais altas nos jogos, em especial ultrawide e 4K.
Age of Empire 2: Definitive Edition
A Microsoft, por outro lado, já vinha fazendo um excelente trabalho com a versão HD de Age of Empires 2, que trazia um remaster do jogo clássico para as resoluções mais atuais, além de atualização do multiplayer para o novo formato da Steam. Essa mesma versão já vinha recebendo expansões que traziam civilizações e campanhas inéditas para o jogador, além de suporte para mods.
Ao ser lançado, Age of Empires 2: Definitive Edition (ou AOE2:DE) entregou resolução 4K, novas e atualizadas animações para todas as unidades de suas 35 (trinta e cinco, meus consagrados!) civilizações, além de todas as campanhas anteriores de AOE2:HD juntamente com uma nova e inédita campanha, apresentando outras quatro novas civilizações ao jogo.
Gráficos repaginados com novas estruturas, animações de construção e destruição de edifícios, áudio remasterizado e conteúdo sonoro inédito. Foi criada uma nova e mais completa AI, mantendo a AI clássica para quem deseja jogar contra a máquina de antigamente, além de novos modos de jogo e sistema de ranking atual para o multiplayer.
Até o zoom da versão definitiva era insano e uma surpresa maravilhosa para antigos fãs da franquia. Confira esse e outras diferenças do vídeo abaixo:
Total desrespeito ao jogadores antigos e atuais
Ao lançar Warcraft 3: Reforged, a Blizzard simplesmente cortou o acesso de todos os usuários da Battle.Net antiga, sem aviso prévio, e fechando todos os servidores na hora.
Com isso, forçou a todos, mesmo aqueles que não compraram e/ou nunca se interessaram em dar qualquer centavo pelo novo jogo, a baixar Reforged e utilizar o client novo, com todos os bugs e falta de várias funcionalidades, que existiam no clássico, como profiles de jogadores, clãs e ladder no multiplayer, além de torneios automatizados.
Além disso, a dor de ter deixado DOTA escapar (e indiretamente, o bilionário League of Legends) fez com que houvesse um update ridículo na política de custom games, onde qualquer mapa ou campanha customizada criada em Reforged passa a ser propriedade da Blizzard, sem compensação financeira de qualquer tipo ao criador. E outra, mapas customizados clássicos de Warcraft 3 como os de DBZ e Pokémon foram banidos por questões de copyright.
E tem mais! A empresa foi acusada de inicialmente impedir que os compradores iniciais, completamente frustrados com Reforged, conseguissem seu dinheiro de volta após se arrependerem da compra - Mas pelo menos nisso eles se redimiram e agora você pode pedir o refund quase automaticamente pelo site.
Já com AOE2:DE, houve desconto para quem já possuísse a versão HD (inclusive existe um bundle na Steam para a compra dois dois simultaneamente). A versão definitiva também continua com suporte aos mods antigos, e todos os mapas clássicos customizados (como o excelente RPG de senhor dos anéis) podem ser jogados. Além disso, existe crossplay entre jogadores de Windows 10 e da Steam.
Fica clara a forçada de barra desnecessária da Blizzard para que jogadores antigos comprem o jogo novo, destruindo a experiência de quem joga o Warcraft 3 clássico desde seu lançamento, 17 anos atrás, em contrapartida com o respeito e carinho pelos jogadores de Age of Empires 2: HD.
O declínio e ascenção de gigantes
Desde a junção com a toda poderosa Activision, a Blizzard acumula fiascos e decepções seguidas, como a vergonhosa apresentação de Diablo Immortal - ah gente, peraí, vocês não tem um smartphone?? - e o lamentável episódio de censura de uma manifestação pró-Hong Kong em um de seus torneios.
Outros produtos estão decepcionantes, como:
- Overwatch - cujos produtores se cegaram com a apoteótica Overwatch League, tornando o jogo para meros mortais como eu e você um MOBA de power creeps, no estilo siga-o-meta-senão-você-não-consegue-jogar (também causando fuga em massa de produtores de conteúdo, inclusive). Ah, e eles uniram os servidores da America do Sul, então se prepare para ter mais dificuldades com a já difícil comunicação in-game, além de eventuais xingamentos racistas em espanhol.
- Heroes of the Storm - filho cujos pais queriam que fosse LOL mas desapontou - que recentemente teve sua principal competição de e-sports desativada, frustrando fãs do mundo inteiro.
- World of Warcraft - com seu gameplay cansativo e lore cada vez mais perdida, em contrapartida com cinematics cada vez mais impressionantes e caras.
Há alguns acertos e espectativas positivas, porém. O que podemos esperar de Diablo 4, aparentemente voltando às (excelentes) origens em Diablo 2? E Overwatch 2, que apresenta um acerto em focar no conteúdo mais querido pelos fãs e erra em cobrar por um segundo jogo de mesma engine, gráficos, mecânicas e conteúdo anterior?
É inegável que W3:R precisava ter seu lançamento (novamente) adiado, e já foi provado que vale a pena esperar quando há um atraso na entrega (podem atrasar o Cyberpunk 2077 de novo também, sem problemas!). Também concordamos que o core do gameplay clássico ainda está lá.
Mas como ficam todas as promessas não entregues? Todo o potencial que esse tipo de remake poderia ter tido na lore completa de Warcraft foi perdido? Será que dá tempo de consertar? Porque Starcraft II, um jogo mais antigo e, na teoria, obsoleto, está repleto de cinematics e conteúdo de campanha? Seria W3:R o Fallout:76 da Blizzard?
Enquanto isso, a Microsoft vem fazendo escola no mundo dos games de PC e de console com o respeito a seus clientes e fãs, especificamente com o sucesso de seu Xbox Game Pass. Além disso, Age of Empires 3: Definitive Edition já está com beta anunciado e foi outra grande surpresa positiva para a fanbase. Isso, claro, sem falar do hype que o trailer de Age of Empires 4 vem causando:
Nenhum rei governa para sempre...
Lembro-me, durante minha adolescência, de como o lançamento de Warcraft 3: The Frozen Throne desbancou o poderoso Counter Strike das LAN houses, mesmo que durante um curto período de tempo. Com a consolidação da banda larga nas casas brasileiras, era extensamente jogado, e seu mod DOTA dominou o mundo nos anos seguintes.
Warcraft sempre foi e sempre será uma das maiores jóias do mundo dos videogames, com uma das histórias mais ricas e personagens marcantes. Não a toa, 17 anos depois, ainda possui - ou possuía, agora que o client antigo foi derrubado - uma comunidade que os joga ativamente e competitivamente, mesmo com gráficos ultrapassados.
Esmero, talento e dedicação vencem o tempo.
Enquanto isso, Age of Empires 2: Definitive Edition é a cereja na ponta do bolo que começou no tratamento recebido por seu jogo clássico, anos antes.
Quem diria que, ao final do maravilhoso Wrath of The Lich King, expansão de World of Warcraft que conta o final da saga do maior vilão do mundo de Warcraft (iniciada exatamente em Warcraft 3), assistiríamos não só à perfeita cena final de despedida de Arthas e seu pai, mas também a uma triste profecia que a cada ano que passa se concretiza mais e mais...
No king rules forever. Nenhum rei (ou empresa) governa para sempre.
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