Resenha Dogma - Limeira - SP pelo Odin's Krieger Fest
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Ocorreu no último dia 18 de Julho na cidade de Limeira, interior de São Paulo, a primeira noite do já tradicional Odin’s Krieger Fest, o festival de música e cultura euro-medieval que, tal como outras coisas na Europa durante a idade média, rapidamente ganhou força e se espalhou por outras cidades. O local escolhido para prestigiar a estreia em terras brasileiras das bandas Dogma e Wind Rose foi o Mirage Eventos, parada obrigatória para grandes nomes do Rock e Metal que são sempre muito bem recebidos pela Circle Of Infinity Produções, que entre outros nomes de peso já trouxe Tarja Turunen, Moonspell, Riot V e Sonata Arctica para fazer a alegria dos paulistas.
Dando início pontual aos trabalhos da noite vieram as novatas da controversa banda Dogma - formada por Lilith IV (Vocal), Nixe (Baixo), Abrahel (Bateria), Lamia II e Rusaka (guitarras) e trajadas como freiras profanas (aludindo à clara influência de bandas já consagradas como Ghost e Mercyful Fate), elas fizeram uma entrada um pouco tímida sob os olhares curiosos do público que já começava a lotar o Mirage Eventos. Da grade aos camarotes se ouviam cantos e gritos de êxtase dos fãs dando as boas-vindas da banda, que faria seu primeiro show em solo brasileiro e um dos primeiros da sua turnê mundial. O fervor logo contagiou o resto do público e animou o quinteto para a sua entrada com a música Forbidden Zone, do álbum Dogma (2023), que logo de início mostrou a boa química entre as musicistas, com destaque especial para a dupla Abrahel e Nixe, que não apenas mostram desenvoltura no palco como também imaculada precisão em seus respectivos instrumentos.
O mise-en-scène do quinteto é bastante provocativo e contrasta as roupas de freira (não obstante, generosamente decotadas) com corpse paint e danças ora sensuais e sutis, ora um tanto quanto exageradas e caricatas (lembrando em alguns momentos o querido Abbath e sua tradicional pose de caranguejo), com direito a caras, bocas, línguas e inúmeras poses que visavam atiçar o público das mais diversas formas - considerando as reações gradualmente mais efusivas da plateia (que, vale frisar, era bastante diversa: homens, mulheres, elfos, halflings, anões e outros mais prestigiaram e lotaram a casa), as freiras parecem ter tido suas orações profanas atendidas a contento. Ademais, o cenário montado no palco continha, além do backdrop contento a imagem de uma freira que parece ter sofrido uma mudança de hábito bastante radical, dois banners laterais contendo imagens com elevado teor sexual, claramente visando provocar a ira até mesmo dos cristãos mais liberais - cenas que não cabe descrever aqui, e que todavia se pode resumir como “feitas por homens, para homens” - entenda a partir disso o que lhe convir.
O curto porém bem-executado setlist continuou com a dobradinha Feel the Zeal e My First Peak. A terceira canção da noite, por si só, quiçá precise de uma matéria inteira dedicada a tentar entender o que diabos (rá!) passava pela cabeça do compositor (uma entidade misteriosa chamada Dark Messiah, vulgo líder de facto da banda) ao escrever possivelmente uma das piores letras da história do metal. Chega a ser lamentável ver um grupo de mulheres tão talentosas cantando uma música que descreve em detalhes desnecessariamente gráficos o primeiro orgasmo de uma mulher sob a perspectiva de um usuário médio do 4Chan que nunca sentiu a maciez da grama sob seus pés nem o calor de um abraço à sua volta. Caso você esteja de bom humor, tendo um ótimo dia e queira estragar tudo isso, leia por sua conta e risco a inexplicável letra de My First Peak aqui [link].
Dando continuidade a um show que cada vez mais atiçava a curiosidade do público sobre quem eram essas misteriosas figuras que fizeram a plateia pular, bater cabeça e fazer mãos de fogo ao som de solos de guitarra executados com maestria vieram Made Her Mine e um incrível solo de bateria que mesclou técnica e musicalidade impecáveis com uma presença de palco inconsistente por parte das demais irmãs - sobre isso, cabe frisar que Dogma é uma banda com menos de dois anos de estrada, então isso talvez explique o porquê de, em vários momentos do show, elas parecerem visivelmente desconfortáveis ora com as danças sensuais, ora com trechos de algumas das letras entoadas pela afinadíssima vocalista Lilith. É evidente que todas, sem exceção, são musicistas talentosas e experientes, e que todavia ainda estão um pouco “cruas” nesses personagens. Ou talvez, apenas talvez, elas realmente não se sintam confortáveis em ser objetificadas em um projeto musical que na superfície se vende como um bastião de libertação feminista tal qual um inusitado crossover entre Ghost e Spice Girls e no entanto é claramente escrito e dirigido por homens, para homens. Ademais, é curioso notar como um projeto tão jovem já conta com uma agenda cada vez mais lotada em sua turnê de estreia (um feito notável, para não dizer suspeito, em se tratando de um projeto fronteado por mulheres em um métier musical que é sabidamente machista e pouco receptivo a novos projetos, que dirá aqueles liderados por mulheres).
Após uma sequência de porradaria sonora (e, não obstante, ornada com letras de gosto duvidoso) com Carnal Liberation, Free Yourself, Bare to the Bones e Make us Proud, veio um medley instrumental que contou com os clássicos Walk (Pantera), The Trooper (Iron Maiden), Master of Puppets (Metallica), Symphony of Destruction (Diet Metallica, digo, Megadeth), South of Heaven (Slayer), Laid to Rest (Lamb of God) e Man, I Feel Like a Woman (Shania Twain) para fechar o bingo de todos os gostos possíveis e conquistar de vez a plateia, que a essa altura do show já estava totalmente rendida ao inusitado carisma das freiras.
Fechando o show foi executado o poderoso trio Pleasure From Pain, Father I Have Sinned, e The Dark Messiah. Saindo do palco ao som da tenebrosa Tubular Bells, tema do imperdível clássico O Exorcista (1973), o show terminou sem selfie com a plateia ou cerimônia similar - surpreendendo algumas pessoas que esperavam um bis e ficaram com gostinho de “quero mais”. E se você quiser saber mais sobre a quem é essa banda tão misteriosa e instigante (por inúmeros motivos, alguns mais amargos que outros), aguarde nosso dossiê, em breve aqui no Nerdweek. Mas antes de cavar essa toca de coelho, vem aí a parte dois com nossa resenha completa do incrível show dos anões do Wind Rose que você terá com exclusividade em breve neste mesmo canal.