Pessoas que não são fãs do gênero não conseguem compreender a razão para que haja tantas pessoas dispostas a assistir um filme aterrorizante. Seja pelas falas, pelos tópicos discutidos ou pelo gore (violência extrema e sangue). Às vezes, os próprios fãs de terror não conseguem definir o que os atrai tanto para o gênero.
A experiência de assistir um filme amedrontador aciona o reflexo “fuga ou luta” no cérebro humano, o qual decide se a ameaça presente é possível ser vencida ou se fugir é a melhor opção. De acordo com a fala de Krista Jordan, PhD, clínica psicóloga, à revista Health, o cérebro não distinguirá, sempre, entre fantasia e realidade efetivamente. Imaginar morder um limão, por exemplo, fará com que suas glândulas salivares funcionem.
Ocorre o mesmo quando assistimos filmes de terror.
Filmes que atiçam esse reflexo, como Jogos Mortais (2004-2017), mostram ao telespectador situações agonizantes e aterrorizantes com violência gratuita e explícita, atiçando o cérebro, o qual estimula a liberação de adrenalina. A adrenalina é responsável pela aceleração do coração e o sentimento de euforia que toma o corpo. Além da adrenalina, o corpo recebe uma carga de sentimentos relacionados ao prazer, as dopaminas e as endorfinas.
Logo, assistir filmes de terror – na medida do possível de cada pessoa – pode tornar-se em uma experiência prazerosa.
Margot Levin, PhD, clínico psicólogo, o apelo de filmes assustadores está na experiência assustadora em um ambiente controlado. Em uma entrevista à revista Health, Coltan Scrivner, pesquisador do Departamento de Desenvolvimento Humano Comparativo na Universidade de Chicago, disse que a atração ao terror em da tentativa de aprender a predizer o mundo ao nosso redor. “Mesmo que as pessoas sejam fictícias, o que elas fariam em momentos assim? O que outras pessoas fariam quando se encontrassem frente a uma ameaça em particular?”
Em um de seus estudos, Scrivner discute sobre a resiliência que pessoas que demonstram um interesse pelo mórbido durante a pandemia causada pelo COVID-19. Em seus resultados, consta que fãs de terror apresentaram menor estresse psicológico durante a pandemia. Scrivner acredita que pessoas que assistem filmes do gênero constroem ferramentas emocionais para lidar com os sentimentos de ansiedade e medo, visto que é isso que é feito durante uma sessão de filmes de terror.
Assim como também desperta no telespectador o sentimento de ser melhor do que o protagonista em fazer decisões, logo, as chances de sobreviver são maiores. É muito comum pessoas fazerem gozação com os personagens e suas decisões erradas durante os filmes, como ir em direção a um barulho ou não matar o assassino dada a oportunidade.
Como telespectadores, as pessoas têm toda a imagem da situação apresentada a elas e, logo, o caminho mais racional para a resolução da situação. Há diversos filmes em que a personagem principal – normalmente, uma mulher – toma decisões que frustram ou enfurecem quem está assistindo. Exemplos seriam Helen Shivers (Sarah Michelle Gellar) em Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997) e Juno (Natalie Jackson Mendoza) em O Abismo do Medo (2005).
Helen, fugindo do assassino, encontra-se em um beco, a poucos metros de um festival. Contudo, ela para e se vira, verificando se o assassino não está atrás dela, e, ao virar novamente para o festival, o assassino aparece e a mata.
Em O Abismo do Medo (2005), Juno mente para seu grupo de amigas que a acompanham na exploração de uma caverna (splunking). Juno havia dito que as cavernas eram mapeadas, porém, quando o terror se inicia, Juno confessa que estavam em um sistema inexplorado, logo, se dessem falta delas, não teriam como acha-las.
Assim, acompanhado do medo e horror em filmes assustadores, também ocorre o sentimento de frustração, o qual leva os telespectadores a imaginar se, naquela situação, sairiam melhores do que o protagonista.
Além das razões já citadas, o gênero do terror, praticamente, vem acompanhada da sexualidade. Diversos filmes, principalmente os classificados como slasher, possuem o sexo, ou a sexualidade, como um de seus pontos importantes, vide clássicos como Sexta-Feira 13 (1980), Carrie, a Estranha (1976) e Um Lobisomem Americano em Londres (1981), assim como filmes mais atuais como Corrente do Mal (2014) e Maligno (2019).
Clive Barker, autor de Hellraiser, comenta que o desejo sexual é um dos motivos que movem seus personagens a tomar ações que, normalmente, não o fariam. Em Hellraiser (1987), a personagem Julia Cotton (Clare Higgins) atrai homens para serem mortos em seu sótão pelo simples motivo de alimentar seu amante voltado dos mortos, tendo a recompensa de que poderão voltar a ter momentos íntimos após sua regeneração.
Desde Nosferatu (1922) à A Colina Escarlate (2015), esse gênero consegue trazer à superfície a discussão sobre o medo e sua relação com desejo sexual, tal qual nenhum outro gênero é capaz. É importante ressaltar a popularidade de vilões e monstros em meio ao público, principalmente o feminino e o LGBTQI+.
Outras menções honrosas seriam Vagina Dentada (2007), Ginger Snaps (2000), Tetsuo: The Iron Man (1989), Cat People (1942) e Garota Infernal (2009).
Em suma, filmes amedrontadores possuem características que os tornam únicos, não por como são compostos, mas pela experiência que oferecem aos telespectadores.