Homem Aranha não é um filme comum. Nem mesmo é um filme comum dentre todos os filmes já feitos da franquia do Homem Aranha. Isso porque ele pega múltiplos personagens, de universos diferentes e junta todos em um universos só.
Além disso, o filme se utiliza de um estilo muito característico de animação para trazer a nossa atenção pra ele. Em resumo, o filme não passa despercebido por qualquer um que seja fã de animação, quadrinhos, ou de cinema.
Para nossa análise completa, você pode conferir aqui.
A Produção
Vamos dar uma olhada em como o filme foi produzido, começando ao vermos quantos animadores possuem no filme. Ele possui 177 animadores, ao passo que filmes como Toy Story possuíam apenas 27. Além disso, um segundo de tela demorou uma semana para ser animado, sendo que o usual é uma semana para quatro segundos de filme.
Com isso, a cena inicial do filme, de dez segundos, demorou um ano para ser produzida de um modo que ficasse ao gosto deles.
Um ponto que eles quiseram valorizar é de que, caso você pausasse o filme em qualquer frame, ele iria se parecer com qualquer frame que poderia ser encontrado em uma HQ, por exemplo. Isso demonstra o quanto a equipe tinha um apreço e uma dedicação especial em cima de cada quadro feito no filme.
"Não faça algo tão real e não faça algo totalmente cartoon" disse Josh Beveridge, chefe de animação de personagens.
Para que isso fosse possível, ele se utilizou de algumas técnicas. Dentre elas, está o frame-rate. Para quem é fã de jogos, está mais familiarizado com esse termo. O Frame-rate está atrelado à taxa de quadros por segundo, ou seja, quantos quadros serão renderizados em um intervalo de tempo. Com isso temos os clássicos 60fps ou 30fps.
Filmes animados possuem, em sua maioria, 24fps. Eles não precisam de muito mais do que isso, porque renderizar um frame é muito caro, especialmente nos filmes da Disney, que geralmente demoram um dia para renderizar um frame inteiro.
Filmes padrão de animação são renderizados com a técnica chamada On One's, ou seja, isso significa que cada frame é único, e ele não é segurado na tela mais tempo. Spiderverse difere nesse aspecto, porque ele é uma animação cuja maioria é On Two's, ou seja, cada frame é segurado na tela duas vezes. Parece estranho, mas ele não só dá um toque diferente e você percebe isso.
Porém, essa decisão é bem categórica, e depende da cena em questão.
Por exemplo, existe uma cena do filme em que Miles está no modo On Two's e Peter B Parker está em On One's durante a cena da perseguição na floresta. Ok, mas por quê?
Miles está em dois frames porque ele é descuidado e absolutamente sem jeito.
Peter está em um frame apenas, porque ele, além de ter mais habilidade, possui mais agilidade.
Escolhas que deram certo
Motion blur é um recurso que é muito utilizado para dar uma melhor sensação de que tudo é mais real. Uma escolha ousada da equipe foi não se utilizar deste recurso.
Em vez disso, eles utilizaram uma técnica mais antiga de animação chamada smear, que traduzindo literalmente fica "esfregaço". O smear é facilmente compreendido quando se tem aquela ideia de que deve-se ter cuidado ao pausar um filme da Disney, porque você nunca sabe o que terá no frame pausado.
Outro fato que foi muito bem pensado foi o que citei mais acima, sobre o fato de que muitos frames parecem com frames de quadrinhos. Isso acontece porque existe um toque ainda além do 3D, que são toques de animação 2D, sobrepostos, criando uma nova camada de informação.
Outro fato interessante é o de que histórias em quadrinho antigas possuíam os clássicos erros de impressão, ou falhas nas tintas. Os produtores decidiram se utilizarem desse recurso. O resultado foi que eles criaram o depth of field (profundidade de campo) sem necessariamente precisarem borrar a animação para que ela possua movimento.
Tudo isso parece muito complexo, mas a junção dos fatores faz com que isso ganhe um efeito só disso. Isso fica muito claro quando vemos que um outro efeito chamado half-toning ou (meia tonalidade) foi bem utilizado.
Essa técnica é feita com a utilização de pontos para fazer cores com gradientes. E elas comumente são usadas em lâmpadas.
Nada novo, porém um uso certo é o de onomatopeias clássicas de cartoons. Esse efeito não é novo e nem um pouco exclusivo, onomatopeias estão presentes no filme de Scott Pilgrin e são muito bem utilizadas.
Pelo fato de haver muitos personagens, cada personagem pode incorporar um tipo diferente de animação, tal como mangá ou cartoons mais clássicos no caso do Porco Aranha. No caso do Aranha Noir, é um dos mais estilosos, que exigiu um trabalho bem detalhado no shader, porque ele é todo preto e branco.
Sendo assim...
Homem Aranha, ou simplesmente Miranha, entra num ponto fora da curva de como animações são feitas e produzidas. Ele tem seu estilo próprio se utilizando de diversos recursos para conseguir criar algo não novo, mas absolutamente diferente do que estamos acostumados a ver.
Por este fato, é fácil da gente dizer que esse filme irá envelhecer bem, e talvez trazer uma nova gama de filmes animados com estilos diferentes dos padrões realistas das animações da Disney/Pixar. Animações que não são ruins, veja bem, mas quando se utiliza essa mesma técnica sempre, quando algo diferente, mesmo que não seja novo, sai, nossos olhos ficam cheios de brilhando.
Isso porque eu nem entrei no aspecto de representatividade e coisas do tipo.
Enfim, Miles consolidou-se com um filme totalmente renovado de uma franquia que dificilmente envelhecerá, e terá sempre um lugar especial em nossos corações.