Festival de cinema: Quando agradar o mercado fala mais alto que o bom senso
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Enquanto o Brasil acumula mais de 110.019 óbitos por Covid-19, o ex-omelete Erico Borgo achou uma boa ideia criar um festival de filmes clássicos com o seu "De volta ao cinema", ou podemos chamar de volta com Corona.
Vivemos tempos atípicos é verdade, desde quando o novo Coronavírus ( Sars-Cov 2) chegou ao Brasil e tomou proporções que poderiam ser evitadas, nos fechamos para o habitual, sair para o trabalho, encontrar os amigos, ir ao cinema e ao teatro viraram coisas de um passado nem tão distante que hoje, parece ser coisa de vidas passadas. Acumulamos mortes, muitas mortes, centenas de milhares de pessoas perderam suas vidas, famílias inteiras destruídas por não terem ao menos a chance de se despedir de seus entes queridos. Cinco meses se passaram, mais de mil mortos por dia, me parece uma bom momento para Erico Borgo, ex-Omelete e idealizador da CCXP anunciar um festival de cinema, o famigerado "De Volta Para o Cinema." o que chega a ser no mínimo uma ofensa para todos que perderam suas vidas, para as famílias que perderam entes queridos e nós, que seguimos trancados em casa, sem visitar familiares e entes queridos para não correr o risco de contaminar, ou ser contaminados pela Covid-19.
De boas intenções o inferno está cheio
Analisando de forma fria, "ignorando" os 110 mil mortos, desemprego, insegurança e abandono estatal para tratar da crise causada pela pandemia, o festival não me parece de todo o mal, ingressos à R$10,00 inteira, VIP pelo dobro do preço, sendo valores cheios garantindo ainda o direito à meia-entrada, BRILHANTE! Mas como diz o ditado popular, de boas intenções o inferno está cheio.
Abrir os cinemas, de acordo com as normas governamentais, garantindo todas as recomendações sanitárias, parece algo legítimo para justificar a abertura dos cinemas, salas fechadas com ar condicionado, onde você pode até garantir pela sua higiene pessoal mas não garante a pessoa uma poltrona à sua direita ou qualquer que seja o lugar que ela( ou elas) esteja acomodada. "Ah mas os bares estão abertos, shoppings funcionando, o cinema não pode, ai é hipocrisia", prevejo a argumentação, e lhes digo caro leitor, ESTÁ TUDO ERRADO TAMBÉM! O aval governamental não está acima do bom senso, este que lhe falta e muito, entendo a volta de setores essenciais, não entendo e não defendo a reabertura de bares e shopping, entendo perfeitamente que nossa saúde mental está em frangalhos devido ao caos gerado com a pandemia e com as incertezas que ela traz em relação aos nossos empregos, nosso modo de vida e claro que o cinema é uma das válvulas de escape do dia-a-dia, que a indústria da cultura e da produção audiovisual está sob constante ataque, principalmente a nacional, porém a sua escolha em se unir a alguns barões do cinema para reabrir salas para passar filmes que podemos muito bem assistir em qualquer plataforma de streaming, ou de outras formas, sinto dizer mas me parece um escárnio enorme para com as vítimas diretas e indiretas da Covid-19.
Não vou pedir para por a mão na consciência, pois ela está guardadinha junto com sua conta bancária, não vou pedir para pensar bem pois sua argumentação de que se o governo liberou, se tem avião voando quer dizer que pode tudo, que está ótimo reabrir espaços fechados, criar aglomeração para assistir Harry Potter e a pedra covidial, digo filosofal.
Ir ao cinema, pagando pouco para ver filmes clássicos pode ser a ida mais cara da sua vida, podendo custar seu bem mais valioso. Pondere bem antes de escolher sair de casa para algo que não seja essencial, o cinema vai sobreviver, você talvez não.