O título soa um pouco redundante, porém não é algo que parece claro para várias pessoas. Animações sofrem preconceito da maioria dos adultos, pois acham que será algo destinado ao público infantil, categorizando a mídia como um gênero; o qual não é.

Uma animação/desenho animado é uma mídia pela qual se deseja contar a história, assim como stop-motion, CGI ou live-actions. Uma animação destinada ao público adulto tem como exemplo Bojack Horseman, o qual não serviria para uma criança de 5 anos, por exemplo.

Ultimamente, o cenário de animações infantis tem ganhado remakes de clássicos para atingir o público atual, proporcionando a perpetuação dos clássicos da cultura pop.

Porém, quando se é feito um remake de animações clássicas encontra-se um empecilho denominado nostalgia. Muitas pessoas que, quando criança, assistiram desenhos animados são tomados por uma onda de nostalgia ao relembrar destes momentos; o que não é ruim. O problema se encontra no sentimento que vem acompanhado da nostalgia: a posse.

Em 2018, a Netflix lançou um remake da antiga animação dos anos 80, She-Ra, com o título She-Ra e as Princesas do Poder. A nova leitura da série não agradou fãs antigos, alegando que haviam tirado a sensualidade da personagem principal. Porém, em um desenho destinado à crianças, sensualidade não é um objetivo.

She-Ra Netflix (direita) e She-Ra anos 80 (esquerda)

As adaptações de vestuário de guerreira foram um dos pontos mais discutidos, ignorando-se a praticidade de um short e uma blusa fechada e desejando a volta do vestido curto tomara-que-caia.

A bola da vez é a aparência da Tina no novo HQ, Tina - RESPEITO, com estreia planejada para setembro deste ano.

Comentários sobre o fato da personagem não ter mais suas curvas suntuosas foram feitos em comparação com a nova adaptação de She-Ra.

Desenvolvedora e produtora de She-Ra e as Princesas do Poder, Noelle Stevenson (acima) e a ilustradora do novo HQ da MSP, Fefê Torquato (abaixo)

A própria Fefê Torquato brinca no twitter, referindo-se à roupa hippie da Tina nos anos 70.

Mesmo que os almanaques da Tina retratem assuntos mais distantes das crianças, como namoro, faculdade e trabalho, ainda é presente o ar descontraído e infantil nos quadrinhos.

Não há como negar que, nos anos 90 principalmente, os desenhos infantis eram recheados de trocadilhos adultos que crianças não conseguiriam entender, porém, com o passar dos anos, quem produz os desenhos também mudou.

Mudanças em clássicos nunca agradarão público antigo, pois não são feitas com estes em mente e sim com o público atual como alvo. As mudanças consideradas "lacradoras" não são feitas como a imagem sugere, por motivos de inveja, e sim por um carinho e respeito ao conteúdo original.

Conteúdo de entretenimento que temos carinho por terem um papel em nossa infância podem não atender ao público atual que possui morais e visões de mundo diferentes das de décadas atrás.

A posse antes mencionada diz respeito a isso; o sentimento de que uma parte de sua vida já passada, será estragada pela oportunidade dada à vida de uma nova geração. O passado não mudará, os almanaques da Tina, com suas curvas acentuadas e cabelos compridos, continuarão existindo assim como a antiga animação de She-Ra.

O grande problema em remakes desta categoria é que os pontos de mudança partem de como mulheres no enredo são vistas, principalmente no quesito visual. Não há uma preocupação com o enredo ter sido mudado e sim se as mulheres presentes nele serão sexy o suficiente para o espectador masculino.

O que levanta as perguntas que não deveriam nem se quer existir: desenhos infantis devem ser sensuais? Fãs, homens cis, adultos, devem ditar como personagens femininas são apresentadas em mídias destinadas à crianças?

Se há uma procura por animações com personagens mulheres cis sexy, há várias destinadas ao público adulto. Segue abaixo uma lista das disponíveis na Netflix.

  1. Kill la Kill
  2. High School of the Dead
  3. Love, Death & Robots
  4. Big Mouth
  5. Paradise Police