Especialista destaca 5 pontos que devem ganhar protagonismo na área de inovação- como novos modelos de trabalho, investimentos em segurança da informação e iniciativas em ESG
O pensamento ágil e a digitalização, que até pouco tempo impulsionaram a transformação digital - acelerada pela pandemia durante os dois últimos anos - não são mais suficientes para que as empresas mantenham-se competitivas no mercado de trabalho. A otimização de processos passou a fazer parte de um modelo de gestão cada vez mais afinado com a realidade atual. Nunca a inovação colocada em prática foi tão valorizada.
Pesquisa recente elaborada pela International Data Corporation (IDC), com base nos Estados Unidos, indica que a economia global segue seu rumo digital. “De acordo com o levantamento, 65% do PIB global deve estar digitalizado até o final de 2022, e a expectativa é que gere mais de US$ 6,8 trilhões [R$ 36 trilhões] em investimentos diretos até 2023.
Outro estudo, conduzido pelo Instituto FSB Pesquisa para a consultoria F5 Business Growth, indica que apesar de 70% dos líderes empresariais entenderem que a transformação digital é um tema relevante para 2022, apenas 37% se consideram aptos a executá-la. A pesquisa foi realizada com mais de 400 empresários e CEOs de todos os setores econômicos e regiões do Brasil, em amostra representativa das empresas de médio e grande porte. O mapeamento teve como objetivo avaliar a maturidade das empresas em relação à TD e usar como indicador a adoção de práticas para este ano.
Para Carlos Baptista, especialista em transformação digital, os levantamentos comprovam que, embora as organizações entendam a importância de seguir em frente com a transformação, acabam resistindo ao processo, muitas vezes por não saber por onde começar. “Ser assertivo nas apostas para evitar custos desnecessários e, paralelamente, manter a execução das operações já existentes tornou-se uma equação complexa de resolver. É por isso que torna-se imprescindível que os líderes foquem nas frentes que podem acelerar o resultado da transformação”, analisa Batista.
Para ajudar a buscar tais soluções, Carlos listou 5 tendências para este ano:
Novos modelos de trabalho
O trabalho em ambiente híbrido já é uma realidade. A obrigatoriedade de permanecer constantemente dentro de um escritório virou “coisa do passado”. Um estudo elaborado pelo Gartner com empresas de médio e grande porte na Ásia, Europa e Estados Unidos, mostra que 80% dos profissionais usaram algum tipo de ferramenta digital ao longo de 2021, principalmente para videoconferência.
“Ou seja, estes modelos funcionam e vieram para ficar, possibilitando que as organizações minimizem os impactos da falta de profissionais por intermédio da internacionalização das suas vagas”, diz o especialista.
Outras vantagens, na visão de Baptista, estão relacionadas ao aumento da produtividade e à qualidade de vida dos profissionais. “Ao evitar deslocamentos improdutivos, permitindo que esse tempo seja aproveitado com atividades prazerosas. Esta internacionalização dos profissionais possibilitará também que novos conhecimentos e experiências sejam somadas à organização possibilitando entregas de valor diferenciadas, ressalta ele.
Segurança da informação
A velocidade de entrega de novas funcionalidades e a adoção de prototipação nos modelos de negócio está crescendo exponencialmente. A transformação digital está essencialmente relacionada com a experiência do usuário, e como tal, precisa estar em constante evolução. Essa velocidade nos negócios, juntamente com a adoção de novas tecnologias, gera potenciais falhas de segurança. Isso significa que os investimentos em transformação digital também precisam ser direcionados para a utilização de novas técnicas e tecnologias de cyber segurança, bem como a criação ou reforço das equipes focadas neste tema.
“A utilização de plataformas de inteligência artificial será cada vez mais importante para que os ataques ou problemas de segurança possam ser antecipados. A segurança da informação precisará ser mais pró-ativa e menos reativa, de modo a reduzir as perdas causadas pelos problemas de segurança”, alerta Batista.
Futuro da internet
Temas como o metaverso e a evolução do 5G já começaram a ser amplamente discutidos, mas talvez não sejam ainda uma realidade para a grande maioria dos negócios. No curto prazo, teremos a realidade da implementação do 5G no Brasil, possibilitando mais e melhor acesso à internet. Tópicos como indústria 4.0 e ampliação da utilização de tecnologia no agronegócio serão potencializados, abrindo um leque de oportunidades para automação e ganhos de produtividade.
Por outro lado, na visão de Baptista, “a democratização do acesso à internet de alta velocidade também possibilitará aos profissionais mais acesso à informação e à educação, que permitam reposicionamento no mercado de trabalho.”
ESG
Conforme citado anteriormente, a transformação digital está essencialmente relacionada à experiência do usuário. E essa experiência também passa pelo posicionamento e pela responsabilidade social e ambiental da organização. “Isso significa que a empresa precisa implementar novos modelos de governança, que demonstrem o quanto ela é responsável e contribui para a criação de um planeta melhor. Estes fatores também entrarão na avaliação que os clientes fazem do serviço prestado pelo grupo- tanto os clientes externos como os ‘clientes internos’” explica o especialista.
Dados, dados, dados
Conforme descrito pelo estudioso americano Edward Deming, “não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”. A análise do comportamento humano e dos resultados da organização são cruciais para a transformação constante. Desse modo, o tratamento de dados continuará a ser uma premissa para o sucesso futuro da organização.
“Esse tratamento vai desde a coleta, passando pelo tratamento e geração de insights para o negócio. Plataformas de big data, inteligência artificial, etc, serão amplamente utilizadas. A governança correta das novas plataformas de inteligência artificial, em conjunto com o empoderamento das equipes de engenharia de dados, possibilitará implementar mudanças nos modelos de negócio com maior assertividade e menor risco para a liderança”, comenta Batista
Para o especialista, estas são algumas das apostas que devem ser feitas no curto prazo pelas organizações. Junto com elas, os profissionais irão se deparar com novos desafios. “O modelo de trabalho e a internacionalização poderá gerar choques culturais. Mais do que nunca, é importante que os líderes se transformem e compartilhem os obstáculos com os seus liderados, de modo que as ideias e soluções surjam a partir das equipes”, analisa ele.
Além disso, na visão de Baptista, as diferenças precisam ser incentivadas, para que novas ideias surjam. “Assim como, para atender a constante necessidade de mudança, novos métodos de gerenciamento devem ser adotados. Não apenas a questão metodológica mas principalmente o mindset. Business agillity e cultura devops precisam ser realidades, e não apenas métodos teóricos”, resume ele.
Baptista ressalta ainda que, em meio a este “turbilhão” de oportunidades, desafios e alternativas, o principal ponto é manter o ser humano no foco de toda a transformação. “A transformação digital precisa ser posicionada onde impacta qualquer ser humano envolvido - seja ele cliente ou profissional da organização”.
Sobre Carlos Baptista- É professor e coordenador no Núcleo de Seleção de Alunos do MBA da FIAP. Especialista em transformação digital, atua como diretor da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano e é co-criador do Modelo Ágil Comportamental (MAC). Possui mais de 30 anos de experiência em TI no Brasil e Portugal.