Esta parte da análise está focada na direção e estrutura do episódio de Black Mirror: Bandersnatch. Ver início.
Contar história em cinema, em um filme, um episódio, é uma tarefa bem árdua. Contar uma história interativa é uma tarefa mais árdua ainda. É como se você fosse montar um jogo com árvores de decisões. Um RPG de escolhas onde suas escolhas realmente afetam o final do jogo.
Assim como em um jogo (mais especificamente jogos da Telltale ou visual novel), Bandersnatch traz uma não tão nova forma de narrativa, mas um novo jeito de ver um episódio e interagir com ele na TV ou computador.
O sistema não é novo na Netflix, que já se utilizou disso em contos infantis, mas nada no universo adulto. Primeira experiência "Black Mirror" da emissora, por assim dizer. O mais interessante é a metalinguagem, o quanto a estrutura de escolhas interfere o personagem, o quanto ele fala sobre isso, e você pode até interagir com ele em certas horas.
A primeira reação de Charlie Brooker e Annabel Jones quando a Netflix os procurousobre a possibilidade de criar um episódio interativo de Black Mirror foi um "não" claro e categórico.
Posteriormente, ambos concordaram porque, segundo Jones, nenhum dos exemplos anteriores de narrações interativas os agradava. Quando começaram a discutir ideias para a quinta temporada, havia uma especificamente que somente funcionaria caso ocorresse a interação com o episódio.
"Estávamos tentando fazer a mesma coisa que Stefan", compara Brooker. "Em alguns momentos nós achamos que estávamos enlouquecendo."
Para tirar o filme do papel, a Netflix criou um algoritmo próprio, uma ferramenta de escrita narrativa inédita para ajudar a criar as ramificações necessárias à história.
Durante o filme, é pedido ao espectador que tome certas decisões pelo protagonista. Surgem duas opções na tela, e há um tempo limite para que a escolha seja feita.
A ferramenta criada pela Netflix, explica a Variety, permite a criação de narrativas complexas que incluem loops que podem guiar o espectador de volta à linha principal caso as escolhas feitas desviem demais do objetivo. Também há também a opção de voltar e refazer escolhas, algo que o próprio roteiro incorporou na história de forma natural, fazendo com que Stefan em alguns momentos perceba que pode voltar e fazer de forma diferente algo que já havia feito. Algo muito bem retratado no início do episódio, quando você erra uma ação.
Para Brooker, o maior desafio é manter o protagonista consistente enquanto dá ao público tantas opções. "Acho que muitas pessoas vão julgá-lo com base apenas na narrativa", disse ao New York Times. "Mas não depende de nós. Depende deles", afirmou, explicando que, apesar de ter sido desenvolvido como uma experiência cinematográfica, Bandersnatch usa "elementos de jogos", já que o espectador está "ativamente guiando as decisões" de Stefan.
Isso, obviamente torna a direção mais complexa, porque, além da mesma cena ter sido gravada diversas vezes com maeriais diferentes, tais como discos ou cereais matinais, isso torna muito mais complexa a junção desses elementos para que não pareçam desconexas as cenas e todo o seu fluxo.
A análise não acabou aqui, você pode seguir:
A decisão é toda sua!