Análise | The Medium usa traumas pessoais para criar uma história de terror memorável
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The Medium faz você matar a saudade do bom e velho survival horror!
É isso, meus amigos, a nova geração de consoles já está a todo vapor e, à medida que 2021 for passando, mais e mais games sairão exclusivamente para o Xbox Series S|X. E também é nessa leva que nos deparamos com The Medium, game da Bloober Team que deu as caras a primeira vez no Inside Xbox em maio de 2020.
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O estúdio polonês responsável por Observer e Blair Waitch demonstra que já tem uma senhora bagagem e experiência para mergulhar no gênero de terror psicológico. Em vez de interrogar pessoas através de implantes no cérebro ou investigar o desaparecimento de um garoto na floresta, agora você controle Marianne, uma médium.
Abaixo, você pode conferir o que achamos de The Medium!
A história de The Medium
Marianne (interpretada por Kelly Burke) é uma poderosa médium clarividente que, após a morte de seu pai adotivo Jack, viaja para o Niwa Resort em busca de Thomas, um rapaz que liga para ela informando que, se ela o ajudasse, ele traria as repostas sobre que ela tanto busca sobre seu passado.
Como médium, Marianne é capaz de se comunicar com espíritos e ajudá-los na sua passagem do pós-vida, uma habilidade que desenvolveu trabalhando na casa funerária de Jack.
À medida que você vai avançando na história, você deve transitar entre os planos material e espiritual para resolver puzzles e auxiliar espíritos. O plano espiritual, no entanto, é uma versão completamente distorcida do plano material, mais especificamente inspirada em Zdzisław Beksiński, um pintor, fotógrafo e artista polonês.
Confira abaixo um dos trabalhos do artista:
Confira agora uma arte do game:
Além de você explorar ambos os planos ao mesmo tempo e resolvendo os enigmas, existem janelas para o plano, na forma de espelhos, uma referência mais que clara a Silent Hill. É por meio dessas janelas que The Medium é capaz de explorar o trauma dos seus personagens.
Ecos do passado
Enquanto você por Thomas, é possível tropeçar em áreas onde os resquícios emocionais do mundo são tão poderosos, que Marianne é forçada a atravessar o espaço no plano real e espiritual para explorar todos esses ecos do passado.
Diversos são os momentos que você deve explorar as áreas em tela dividida: uma no plano material e outro no plano espiritual. Assim, sua atenção deve, literalmente, ser redobrada para pegar detalhes que são cruciais para progredir na história em planos diferentes.
Todos esses ecos do passado são experiências tão vívidas de personagens tão reais. São cartas amorosas, mas também há muito sofrimento envolvendo, deixando a questão de como o sofrimento molda as pessoas e isso pode deixar marcas no tempo.
Puzzles pra que te quero!
Um game ser survival horror é um grande indício de que ele terá puzzles. Não há como fugir dessa premissa. Porém, como fugir de uma premissa que pode facilmente ficar saturada se não for bem explorada?
Mais do que resolver um quebra-cabeça, The Medium explora os motivos pelos quais você resolve aquele quebra-cabeça. Niwa Resort sofreu um incidente horrível em que quase todos morreram no local, mas ninguém sabe por quê, então faz parte da sua jornada descobrir o que aconteceu ali. Isso já é motivo suficiente para manter você na trilha de explorar os puzzles do ambiente.
Fato é que resolver os puzzles é algo extremamente satisfatório, não só pelo fato da equipe ter conseguido criar mecânicas que expandem o espaço-tempo do próprio jogo, mas como cada um deles dialoga entre as dimensões.
Por exemplo, coletar um girassol no plano material pode fazer com que você ganhe poderes extras no plano espiritual. A sensação espacial e análise literalmente redobrada faz com que os puzzles não caiam na mesmice.
O bom e velho perseguidor
Embora a maior parte de The Medium siga em torno de resolução de puzzles e encontrar com espíritos de crianças brincalhonas, o game também apresenta momentos de perseguição que resultam no encontro com The Maw (interpretado por Troy Baker).
Maw é uma criatura horripilante, concentrada em seus próprios medos e na dualidade entre a vergonha que sente com o ego do tamanho do mundo. Tudo isso é expressado na atuação impecável de Baker como o (se não literal) nêmese do jogo.
A sensação de dar de cara com Maw vai crescendo à medida que você vai resolvendo cada vez mais os puzzles. Sempre que você não o vê por um bom tempo, ansiedade pra dar um abraço nele em seguida só cresce.
O áudio de The Medium
A equipe de sound design está de parabéns no que diz respeito a sons emitidos por personagens. A experiência, especialmente em fones de ouvido é absolutamente impressionante.
Fora que, não é preciso dizer o quanto o trabalho de trilha sonora está em mãos capacitadas: Arkadiusz Reikowski (responsável por Blair Witch) e Akira Yamaoka (que você pode ter conhecido se já jogou Silent Hill).
Há sempre duas formas de ver algo
Se tem algo que The Medium deixa bastante claro é quanto ao fato de que nem sempre uma história tem um lado, ela tem dois (ou pode até ter mais). Isso fica claro nos puzzles que exigem análise dos dois planos e nas cutscenes em que Marianne aparentemente parece conversar sozinha de lado, mas do outro está conversando com alguém.
Porém, à medida que você vai avançando e vivenciando os traumas de Marianne e de todos os outros personagens, fica claro que existem vários lados que justificam suas ações. Mesmo que essas ações possam até ter causado mais trauma em outras pessoas.
É um toque de que ter empatia e entender o trauma não quer dizer que a pessoa não seja culpada pelo que fez. Essa é uma reflexão bem importante abordada pelo game.
The Medium tem a cara da nova geração
The Medium utiliza um recurso de tela dividida que meio que vai renderizar a mesma cena duas vezes. Isso consome um custo de processamento tão grande, que ele só poderia ter saído para PC e a nova geração, capaz de renderizar isso sem impactar na experiência com quedas de FPS.
Isso, por outro lado, demonstra como você pode ver a mesma situação por perspectivas diferentes. Enquanto ocorre um diálogo no plano espiritual, é possível ver exatamente as expressões de Marianne na outra tela. Tudo isso graças ao poder de processamento da nova geração.
Mas e aí, The Medium vale a pena?
Bom, chegamos num ponto bastante difícil desta análise: há muito a ser dito por este fã de jogos de survival horror. The Medium possui inúmeras camadas a serem analisadas, mas não quero tornar esta leitura absurdamente maçante.
The Medium bebeu de essências até demais, no que diz respeito a dois planos, espelhos e câmeras travadas. Porém, itens que me incomodavam em franquias como Silent Hill, Resident Evil antigos foram algo que eu não senti.
Por exemplo, em franquias como SH, a câmera te trava e impede que você veja alguns detalhes. The Medium, apesar de ter câmera travada, te dá muito mais liberdade de visão e exploração. De alguma maneira, os devs conseguiram contemplar todos os pontos que eu queria ver, sem sentir que eu estava preso à câmera.
Ao que tudo indica, não veremos mais franquias como Silent Hill ganhando vida, então há de se convir o trabalho de carregar uma sucessão espiritual de mecânicas que fizeram parte da vida de tantas pessoas.
The Medium bebe da essência e utiliza os traumas de maneira única para criar um conto que vai ficar na mente de muitos fãs por muito tempo.
The Medium foi gentilmente cedido pela Microsoft para Xbox Series X|S para que nossa equipe pudesse fazer esta análise se borranado de medo.