Desde seu anúncio no Xbox & Bethesda Showcase, Scorn trouxe para o público dúvidas sobre como a Ebb Software conseguiria juntar, ao mesmo tempo, um pesadelo biomecânico com partes viscerais e grotescas tudo no mesmo lugar.
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Fato é que, de modo geral, o saldo do game se torna bastante positivo, no propósito ao que ele tenta se embasar. No entanto, a jornada pode não ser tão tranquila ou tão frenética quanto um Doom da vida — e isso pode acabar frustrando quem estava esperando isso.
No meu caso, fui munido de qualquer expectativas e esperanças, e, no fim, o que me ganhou, foi a instabilidade de como tudo é apresentado, a ânsia pela busca por respostas e, ao mesmo tempo, o quanto isso pode ser aflitivo.
É com essa premissa que seguimos para nossa análise de Scorn; confira mais detalhes nas linhas abaixo.
Acordar não é uma opção
O jogo já te mostra logo no menu que ele não está de brincadeira. Ao acordar, no sonho, o jogador não recebe tutorial, informações ou nada que justifique o motivo do protagonista estar ali fazendo o que ele faz.
Sem uma interface clara, com bússola, direcionamento, HUD, enfim, o jogador precisa ir descobrindo mais informações daquele lugar por conta própria. Ou seja, o jogo não te ajuda nesse aspecto, mas isso pode ser bastante interessante para aqueles que querem ser testados.
Embora não haja uma linha de diálogo sequer ao longo da narrativa, em momento algum você sente que não há história. Seja no gameplay ou nas poucas cutscenes, tudo é mostrado através da movimentação dos personagens, especialmente de sua linguagem corporal, e até mesmo na ambientação.
Uma direção de arte visceral
Algo do qual não podemos reclamar em Scorn é de seu visual, amplamente consistente. Com influências de influências a HR Giger e Zdzisław Beksiński, o game claramente consegue chorar com nojo nas áreas internas, ao mesmo tempo que fascina com a arquitetura das áreas externas.
No que diz respeito a jogos de terror, um dos pontos-chave de toda história interativa é o quanto ela transita entre as partes tensas e de calmaria.
Jogos como Amnesia ou Resident Evil isão capazes de intercalar muito bem momentos de estresse e desconforto com calmarias, especialmente quando isso se reflete nos locais onde os protagonistas estão.
Embora possua áreas abertas com excelentes arquiteturas, o mundo, ainda assim, é bastante sombrio e não te traz essa sensação de que as coisas vão se acalmar. De fato, há partes que podem ser "sombriamente bonitas", mas ainda nelas, o ambiente nunca vai deixar de te chocar, perturbar e tirar a sua paz.
Isso não é bem um problema, já que o mundo é bastante verossímil e funciona. No entanto, talvez seria interessante que ele trouxesse um pouco mais dessa calmaria contemplativa para o enredo, ou com cenários mais "acolhedores", dentro do que possa ser chamado de "acolhedor" no mundo ali apresentado.
E o combate?
Scorn talvez tenha trazido uma aura de que teria um flerte maior com Doom, que traz um mundo mais frenético e "fritado", com monstros e afins. No entanto, esse não é o foco dele.
Há combate, mas o maior foco é na resolução de puzzles. De todo caso, você pode adquiris quatro armas, no equivalentes a pistola, espingarda, lança-granadas e uma arma melee, que será usada como uma espécie de chave para alguns consoles do mundo.
Diferentemente de Doom ou outros jogos do estilo, Scorn é realmente mais focado no survival horror, então as munições são escassas, a troca de armas ou combinações são lentas, e tudo isso te deixa extremamente vulnerável.
Level design e Game design
Como o maior enfoque do jogo é na resolução de puzzles, espere um level design mais travado e mais fechado. Embora a exploração seja um ponto chave para um jogo dessa natureza, Scorn acaba não oferecendo uma vasta opção nesse aspecto.
Por ter sempre um ambiente sombrio e focado na mesma ambientação, não é muito difícil ver portas similares em ambientes similares. Ou seja, é muito fácil se perder nos labirintos, caso você não esteja habituado.
Mas, novamente, é isso que torna o game especial, é esse enfoque no quanto o jogador se identifica, talvez, com o protagonista: ambos estão perdidos.
Scorn vale a pena?
A pergunta vai bem mais além do que simplesmente valer a pena ou não, já que, por ser um jogo de terror e com temáticas que podem causar certo nojo ou desconforto, a discussão vai além disso.
Por se tratar de uma obra mais experimental e ousada, há aquela aura de que o game não quer te perder, ele te dá as ferramentas necessárias para você buscar o que procura.
No entanto, indo na contramão da indústria, que sente a necessidade de guiar todos os passos dos jogadores, colocando tutoriais, interrogações, exclamações, objetivos, tudo na tela do jogador, Scorn não faz nada disso — já que ele não tem nem bússola e nem mapa.
O máximo que o jogo te dá é a informação de vida e munição e dê-se por satisfeito. Tudo isso somado torna o jogo não tão acessível, porém, é justamente por isso que ele deveria ser mais explorado, para que mais pessoas tenham acesso a coisas diferentes do "padrão".
Seguir uma fórmula padrão nunca foi o problema, e é a fuga dele que traz coisas novas e interessantes. Ao fugir do padrão, Scorn cria uma aura, história e gameplay únicos, que podem sim, ser experimentados por muitos, mas que infelizmente não vai agradar a todos.
Scorn vale a pena porque tenta se desvencilhar do padrão da indústria e tenta trazer algo experimental e disruptivo.
Outro ponto a ser considerado é justamente sua disponibilidade no dia do lançamento no Xbox Game Pass, o que democratiza ainda mais esse tipo de escolha e faz com que as pessoas possam simplesmente experimentá-lo "para ver no que dá". No entanto, o preço de lançamento de R$ 75 também não deixa muito a desejar no aspecto de que tem jogos de entrada saindo por R$ 350.
Sendo assim, Scorn é um game completamente diferente de tudo que vimos em 2022, e olha que Elden Ring foi capaz de trazer à tona uma discussão bem similar à essa que estamos tendo nessa análise.
Scorn está disponível para PC e Xbox Series X|S (também via Xbox Game Pass). Esta análise foi feita com uma cópia gentilmente cedida pela Ebb Software.