Na Brasil Game Show (BGS) de 2016, a equipe da Massive Work Studio mostrou aos gamers brasileiros um título que sabíamos que ia dar o que falar: Dolmen. O game chamou a atenção pelo seu estilo Soulslike e que já mostrava uma boa qualidade mesmo tendo sido feito em somente 45 dias.
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Em 2018 a equipe iniciou um financiamento coletivo no Kickstarter e, nos períodos seguintes, a campanha ganhou uma excelente repercussão e atingiu a sua meta. Estamos falando de US$ 20.272, um montante importante para conseguir seu lugar ao sol e dar os primeiros passos.
Agora, em 2022, podemos realmente ver o final do que foram anos de trabalho árduo e que resultou em uma experiência singular. Confira abaixo a nossa análise de Dolmen!
A história de Dolmen
Bom, Dolmen não enche muita linguiça. Assim como um bom Dark Souls, o game te joga no mundo sem muitas explicações. O mundo é a sua cutscene, e você deve achar as informações necessárias ao explorá-lo.
Após colonizar vários sistemas estelares usando a tecnologia de viagens espaciais e manipulação genética para se adaptar às novas condições. Apesar disso, o sistema Revion demonstrou fortes indícios de radiação que poderia indicar a existência de outros universos.
Como há apenas um planeta neste sistema, chamado Revion Prime, é sua tarefa investigá-lo e confirmar se existem mesmo outras dimensões por lá. Só que isso pode não só desestabilizou o equilíbrio político, mas demonstrou haver uma espécie alienígena com intenções que não são das melhores.
Cabe aos jogadores descobrirem os segredos de Revion Prime e os cristais Dolmen para descobrir o que há por trás da aura e os mistérios envoltos no planeta. As cutscenes que ajudam a complementar a história são muito bem feitas, e isso se deve muito ao fato do game utilizar a Unreal Engine como motor gráfico.
No entanto, a questão de história é um elemento que acaba deixando a desejar, visto que a motivação do personagem a progredir não é uma das melhores. Mas, talvez esse seja um problema da própria mecânica e da dinâmica de um Soulslike, não de Dolmen em si, visto que o game te guia bem para os pontos certos e te dá as informações necessárias.
Dolmen é um Soulslike com tiro
Embora beba e muito da essência de jogos da franquia de Dark Souls, é mais justo comparar Dolmen com The Surge, que é um sucessor espiritual de Lords of the Fallen. Mas, ainda assim, The Surge não possuía uma mecânica que eu achei extremamente divertida em Dolmen: a de tiro.
Embora a parte de melee seja bem mais travada, e exija maior habilidade do jogador, eu senti que a mecânica de armas de Dolmen é super gostosa e divertida de jogar.
Leva um tempo até você entender que como ela funciona, especialmente a parte de lidar com o fato dos tiros estarem ligados à stamina? Sim, mas nada disso faz com que atirar seja ruim.
Pelo contrário, eu gostei mais de enfrentar os inimigos com as armas de tiro e depois finalizá-las com os golpes. Isso tornou o jogo mais dinâmico e menos travado do que um puro Soulslike.
As classes de Dolmen
Dolmen não seria um RPG sem umas classes interessantes para compor a sua lore, como por exemplo:
- Recruta: para quem quer começar sem qualquer ajuda;
- Atirador de Elite: atributos focados no uso de armas de disparo;
- Caçador de Recompensas: centrado no uso do Vigor;
- Encouraçado: conjunto que privilegia Constituição e Resistência;
- Híbrido: os pontos são distribuídos a modo de permitir o uso de diversos equipamentos.
Os atributos e equipamentos do personagem
Além do sexo do protagonista, que é chamado, por padrão de William, caso seja homem ou Michele, caso seja mulher, o game também possui uma série de atributos que podem ser aprimorados ao longo da sua timeline:
- Constituição;
- Resistência;
- Energia;
- Força;
- Perícia;
- Ciência.
Além disso, existem outros atributos, como os:
- Pontos de vida;
- Pontos de vigor;
- Pontos de energia;
Cada personagem pode usar equipamentos diversos em cada um dos componentes personalizáveis:
- Mão esquerda;
- Mão direita;
- Arma de Disparo;
- Reator.
Apague a timeline
Assim como um Soulskike, Dolmen também possui as suas Souls ou Runas: a sua timeline. Se você morrer, ela será apagada, mas é possível recuperá-la voltando ao ponto em que morreu.
Querendo ou não, essa mecânica torna um jogo extremamente punitivo, e eleva muito a curva de aprendizado. Mas, novamente, é um aspecto característico de um Soulslike.
Mas sejamos justos, Dolmen consegue te enganar bem em algumas partes. Em certos momentos, o melhor caminho é não enfrentar batalhas para as quais você não está preparado. Então, sempre que vir uma área muito grande e com muitos inimigos, considere um caminho alternativo — às vezes isso pode te salvar (ou não).
Um projeto ambicioso
Como um game designer formado que migrou para a área de jornalismo, eu entendo, de coração, que a indústria brasileira de games não dá os incentivos necessários para que as empresas mirem alto, buscando desenvolver um sonhado Triple A.
Dolmen, em sua essência, é um projeto com um enorme potencial e que conseguiu fazer a prova de fogo e conquistar seu lugar ao sol, não só batendo a meta estabelecida no Kickstarter, como chegando ao seu lançamento, com um produto final. Essa é uma vitória que poucos desenvolvedores conseguem atingir.
No entanto, eu vou trazer à luz uma reflexão que tenho feito sobre a indústria nos últimos tempos. Por muito tempo, a indústria indie nacional tem focado em criar jogos de estilo pixel art, com mecânicas de metroidvania ou rogue like. O motivo não é muito distante do que disse acima: recursos, tempo de produção e escopo limitados.
Quando a Massive Work Studio decidiu mirar em um escopo de Triple A e fazer essa aposta, sem saber do futuro à frente, ela não só acertou em algo que eu gostaria de ver na indústria nacional, como tenho certeza que vai encorajar novos desenvolvedores a seguirem um caminho similar.
Se antes tínhamos dúvidas de que Triple A's eram um sonho distante no Brasil, agora temos a certeza de que a indústria pode ter seguido um caminho interessante e que está desbravando novas possibilidades. E esse é o primeiro capítulo de uma nova leva de títulos que vão pegar mais experiência do que já se tem ultimamente.
Mas e aí, Dolmen vale a pena?
Dolmen pode não ser o que muitos jogadores esperam, com alguns pequenos problemas técnicos. Se fizermos a comparação dele com os últimos Soulslike recentes, como Sekiro ou Elden Ring, podemos chegar à uma conclusão simplória de que o jogo passa uma aura de ultrapassado.
Esse é um fato que infelizmente fará com que muitos jogadores estabeleçam as suas comparações. Para esses, eu digo: evitem comparar Dolmen com equipes enormes, orçamentos milionários, e tudo mais que um grande estúdio possui como backup.
Pelo seu enorme escopo e com recursos técnicos colocados no caminho, infelizmente Dolmen deixa alguns aspectos a desejar, como algumas animações mais plásticas, menos fluidas, alguns inimigos travados.
Mas acerta em muitos outros, como um sistema de classes bem balanceado ou uma série de equipamentos interessantes e diversos. A mecânica de tiro não é nada travada e possui uma mobilidade gostosa — muitas vezes, nem parece que a mecânica melee é bem mais travada, já que ela se torna um companion enquanto você espera a arma ser recarregada.
Por isso, se você é fã de um Soulslike, ou curtiu muito o game The Surge, talvez Dolmen tenha um quê que vai te atrair a desbravar Revion Prime de forma completamente singular. E, só pelo fato de desbravar um caminho complicado na nossa indústria, o game vale muito a pena.
Dolmen está disponível para PC, PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series X/S. Esta análise foi feita com uma cópia gentilmente cedida pela Massive Work Studio.