Algoritmo da Vida: com ajuda dos diários de Kurt Cobain, projeto busca sintomas de depressão nas redes sociais
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A lista de artistas que decidiram tirar a própria vida é enorme e devastadora. Todos eles têm, em comum, a depressão e, posteriormente, o suicídio. Acontece que esses não são casos isolados - muito menos restritos a grandes nomes da música mundial.
A cada 40 segundos de 2018, uma pessoa tirou a própria vida. No total, o número chega a 1 milhão, em uma escala global. De acordo estudos publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), suicídio causa mais vítimas do que guerras, homicídios e conflitos em todo o planeta.
Para piorar, a cada suicídio, outras 20 pessoas tentaram fazer o mesmo e falharam, de acordo com um estudo chamado Preventing Suicide: A Global Imperative, também da Organização Mundial da Saúde.
No Brasil, o cenário se repete. Diariamente, 32 brasileiros tiram a própria vida. No ano passado, foram 11 mil pessoas. O Ministério da Saúde revelou o aumento em 20% de suicídios entre jovens de 15 a 19 anos, nos últimos cinco anos. Isso faz com que o suicídio já seja a quarta causa de morte mais frequente entre os jovens brasileiros.
Já é hora de falarmos sobre o suicídio, embora alguns manuais de redação usados em veículos de todo o País peçam aos seus jornalistas fazerem o contrário, não tocarem no assunto, evitarem o uso da palavra.
E é com base nesses dados que foi criado o Algoritmo da Vida, um projeto sem precedentes assinado pela Rolling Stone Brasil, lançado oficialmente nesta segunda-feira, 18.
Com ele, foi criado um algoritmo capaz de identificar uma enorme variedade de palavras, expressões e frases que podem indicar sintomas de depressão nas postagens públicas dos usuários no Twitter.
Alguns exemplos dos termos da "gramática da depressão" foram retirados das páginas dos diários de Kurt Cobain, que indicavam que a saúde mental do líder do Nirvana não estava bem. Mas não é somente isso, o estudo foi a fundo para entender como são os pedidos de ajuda, volulntários ou involuntários, recorrentes nas redes sociais para pessoas potencialmente em algum estágio depressivo.
O algoritmo encontra a recorrência desses termos e indica o perfil para uma checagem cuidadosa de uma equipe treinada para considerar, inclusive, contexto, ironias e recorrência de termos e periodicidade.
Depois que a ferramenta e a equipe confirmarem o potencial do usuário em desenvolver a depressão, um perfil secreto criado especificamente para a ação com o auxílio de psiquiatras entra em contato com o indivíduo por meio de mensagem privada, na mesma rede social.
A ideia é, com a conversa, entender melhor o perfil do usuário e indicar a melhor forma de tratamento, por meio do telefone do Centro de Valorização da Vida (ligue 180), referência nacional no atendimento a pessoas com depressão.
"A Rolling Stone, como um veículo voltado à cultura pop e, principalmente, à música, lida todos os dias com a depressão ou seus sintomas. E isso é alarmante", diz Pedro Antunes, editor-chefe da Rolling Stone Brasil. "Muitos músicos pediram ajuda nas suas músicas. Veja o caso de Kurt Cobain ou de Chester Bennington, do Linkin Park, por exemplo. Vidas chegaram ao fim de forma precoce por conta da depressão, basta lembrar de Chris Cornell. Tudo o que pudermos fazer para diminuir esse número precisa ser nossa prioridade. É uma responsabilidade social que devemos ter. Cada vida salva é uma vitória", completa.
O Algoritmo da Vida está em operação desde fevereiro e detectou quase 300 mil menções que potencialmente utilizam a linguagem da depressão.