Filmes que dão medo costumam ser favoritos da cultura pop, assim como conseguem alcançar um público que, normalmente, não se atrai pelo conteúdo apresentado. As histórias apresentadas nos mais diversos filmes assustadores e horripilantes conseguem transmitir sentimentos diferentes dependendo do telespectador, como também do modo como a história é contada.
Filmes de terror possuem a premissa de assustar os telespectadores, usualmente ocorrendo em torno de histórias com exorcismos ou casas mal-assombradas. Contudo, dentro dessa categoria temos filmes, os quais, podemos dividir, em sua grande maioria, como terror ou horror. Mas qual a diferença?
O dicionário Oxford oferece diversos significados para horror: 1. Forte impressão de repulsa, acompanhada ou não de arrepio, gerada pela percepção de algo ameaçador; 2. Sentimento de nojo, de aversão, de ódio; 3. Sentimento de profundo incômodo ou receio; 4. Caráter do que inspira pavor ou repulsa; 5. Aquilo que se mostra desagradável ou extremamente aborrecido.
Enquanto terror é recebe as seguintes classificações: 1. Característica do que é terrível; 2. Estado de pavor; 3. Quem ou o que aterroriza.
Logo, é possível diferenciar um gênero do outro. Porém, não são excludentes, podendo se sobrepor, tendo filmes que apresentam os dois gêneros em cenas diferentes. Um exemplo seria A Casa de Cera (2005), em que o horror é utilizado quando os protagonistas descobrem que a cidade em que estão é composto por pessoas reais cobertas de cera. A partir de então, o terror é presente, pois precisam sobreviver ao vilão, Vincent.
O gênero do horror utiliza de elementos que formam situações destinadas ao choque, à repulsa, sendo, normalmente, construídos para que o telespectador se sinta desconfortável com as decisões dos personagens e com os desdobramentos de suas ações.
Já o gênero do terror, utiliza de diversos elementos que servem para deixar os sentimentos do telespectador à flor da pele, deixando-o amedrontado do que quer que venha a acontecer.
Torna-se possível notar que o horror afeta o pós-evento enquanto o terror afeta o pré-evento. Em filmes de terror, tomando slashers como exemplo, a expectativa é criada em torno de como o vilão matará os protagonistas, pois sabe-se que após o encontro, há a morte. No horror, os eventos ocorrem e o personagem é obrigado a lidar com as consequências de seus atos ou de eventos relacionados ao mesmo.
Em ambos o gênero, o telespectador observa histórias escabrosas se desenvolverem diante de seus olhos, mudando apenas quando é afetado durante a experiência.
Filmes como Hereditário (2018) e Cemitério Maldito (2019) seguem histórias que o público não sente medo do que está por vir, mas passam o filme analisando as decisões e consequências da trama, tentando compreender a história como um todo.
Em Hereditário, o desconforto presente na família é acentuado após a morte da avó, sendo então somado à morte brutal da filha mais nova, Charlie. Com o decorrer do filme, a trama toma uma direção inesperada, fazendo com que a esposa, Annie, perca a sanidade aos poucos e se afaste do marido e do filho, culminando com os acontecimentos do final do filme.
Em Cemitério Maldito, além da estranheza de mudar para uma nova cidade e a dificuldade de adaptação a novos ambientes, a família Creed perde a filha mais velha, Ellie, na versão de 2019 e o único filho na versão de 1989. Vencido pelo luto e lembrando dos poderes que o cemitério de animais de estimação tem para trazer os mortos de volta à vida, o pai, Louis, enterra a filha nesse cemitério. Ao longo do filme, a menina, trazida de volta dos mortos, demonstra comportamentos psicóticos, ocasionando mortes.
A versão de 1989 foi inspiração para a música Pet Sematary da banda Ramones, a qual toca nos créditos da versão de 2019.
Ambos os filmes utilizam elementos de terror e horror, porém os desfechos demonstram que o intuito não era causar medo e sim ojeriza. Na versão de 1989 de Cemitério Maldito, a última cena é quando a esposa morta retorna à casa e Louis, em sua euforia ao vê-la novamente, a beija mesmo que haja pus escorrendo de seu rosto pútrido.
Em Hereditário, a cena final mantém o telespectador no assento, perguntando-se o que acabou de transcorrer e o que aconteceria após. O choque é um dos elementos mais importantes para o horror.
Filmes como os da franquia Invocação do Mal (2013-2021) e a versão estadunidense do clássico japonês O Chamado (2002), podem ser utilizados como exemplos para a premissa do terror.
Em Invocação do Mal (2013), o público mundial foi abalado com a história de uma mãe que procurou o casal Warren para ajuda-los com uma presença maligna na nova casa em que moravam. Uma das principais cenas que amedrontaram o público foi a em que a mãe, Carolyn, fica presa no topo da escada que leva ao porão, no escuro, e, assim que acende um fósforo para conseguir enxergar, um par de mãos aparece ao seu lado, batendo palmas, claramente utilizando do método que os filhos de Carolyn usam para indicar onde estão quando brincam de cabra-cega.
Em O Chamado (2002), a figura da Samara fica conhecida fora do Japão, onde é chamada de Sadako. A história passa o sentimento de desespero e angústia quando a personagem principal, Rachel, é amaldiçoada após assistir a fita VHS que transmite a maldição. Após assistir, Rachel recebe uma ligação e a famosa frase “Você morrerá em 7 dias” é proferida, lançando Rachel em um frenesi para se livrar da maldição.
O primeiro, baseado em fatos reais, acaba tornando-se mais assustador para o público ocidental, pois há elementos católicos envolvidos. Enquanto, o segundo utiliza de elementos referentes à tecnologia, como telefones fixos e fitas VHS, os quais estavam em alta quando o original japonês foi lançado em 1998.
O desconhecido e a luta contra o tempo são elementos extremamente presentes no terror, resultando na urgência de escapar de ameaças eminentes e na adrenalina que o telespectador sente ao presenciar o desenrolar dos filmes.
Apesar de sua possível sobreposição e simultaneidade, os dois gêneros prometem sentimentos diferentes ao público.