O gênero do terror é mundialmente famoso, contando com vários títulos dos mais diversos subgêneros e tópicos. No Brasil não é diferente, apesar das baixas bilheterias.

Em 2020, o gênero do horror nacional completou 56 anos desde o lançamento do primeiro filme classificado como terror: À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964), dirigido e estrelado por José Mojica Marins ou, como era conhecido, Zé do Caixão.

José Mojica foi responsável por introduzir o gênero ao cinema brasileiro nos anos 60 com o lançamento de À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967).

Em uma entrevista ao site Revista Pesquisa da FAPESP, a pesquisadora Laura Cánepa, professora e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo, a era de ouro do terror brasileiro se concentra entre 1963 e 1983.

A época de ouro inclui os filmes mais importantes de Mojica, sendo interessante ressaltar que o gênero se desenvolvia em meio ao período das pornochanchadas oriundas da Boca do Lixo (região no Centro de São Paulo, onde se concentravam produtores e distribuidoras nos anos 70), o qual apresentava influencias de produções europeias, ocasionando a mistura do apelo erótico a elementos sobrenaturais.

Mesmo que o gênero tenha se consolidado em nos anos 60, filmes anteriores já apresentavam elementos sobrenaturais, como acrescenta Cánepa ao mencionar que em 1936, o filme O Jovem Tataravô já apresentava elementos de horror, apesar de ser classificado como comédia.

Cena de O Jovem Tataravô (1936), em que invocam, de volta dos mortos, o tataravô do personagem principal

Filmes como Presença de Anita (1951), Meu Destino é Pecar (1952) e Ravina (1958) já demonstravam elementos do sobrenatural.

O catálogo nacional para o terror conta com muitas obras experimentais, principalmente durante a era de ouro, como As Sete Vampiras (1986) de Ivan Cardoso, diretor de Nosferatu no Brasil (1971), que conta com o deboche das  pornochanchadas e monstros, aplicando marchinhas de carnaval e criou o gênero "terrir", a comédia em meio ao terror.

Nosferatu no Brasil (1971).

O curta Pasteleiro (1981), precessor do longa Aqui, Tarados (1981), dirigidos por David Cardoso, é um grande exemplo de terror extremo nacional, podendo ser comparado com A Serbian Film (2010) em quesito de tópicos e gore. O final do século XX e inicio do século XIX é marcado pelo cinema de Retomada, período em que, após estagnação do setor pelo fim da Embrafilme no governo Collor. Um exemplo desse período seria O Xangô de Baker Street (2001), dirigido por Miguel Faria Jr., o qual mistura horror e comédia com a possibilidade de Jack, o Estripador, ter se aventurado no Brasil. O terror nacional é, normalmente, acompanhado do thriller, o qual é um gênero por si só, mas que também pode ser considerado um subgênero, visto que apresenta elementos narrativos próximos aos do terror/horror. Filmes internacionais como Sev7n (1996) e A Última Casa (2009), assim como filmes nacionais como Isolados (2014) e O Segredo de Davi (2018), são exemplos dessa combinação.

O Segredo de Davi (2018).

O horror brasileiro mostra certa distância do subgênero do sobrenatural com fantasmas, visto a grande influência da religião espírita da população e seu entendimento de espíritos e vultos como passivos à existência. O cinema nacional trás mais filmes com monstros, sejam de crenças populares ou não, como no caso das obras de Rodrigo Aragão, como em A Noite do Chupa-cabras (2013) ou apostam em terrores voltados para o psicológico como O Lobo Atrás da Porta (2013), dirigido por Fernando Coimbra, e Quando Eu Era Vivo (2014), dirigido por Marco Dutra.

Quando Eu Era Vivo (2014).

Apesar do potencial cinematográfico nacional, com filmes premiados como Morto Não Fala (2018), dirigido por Dennison Ramalho, e Mangue Negro (2008), escrito e dirigido pelo prestigiado Rodrigo Aragão, o gênero não demonstra apelo para produtores e investidores, pois não consideram como um gênero que apresente demanda, o que é relacionado ao preconceito que a população tem com o próprio cinema nacional. De acordo com a Lei N° 13.006, de 26 de junho de 2014, é decretado a exibição de, ao menos, duas horas de cinema nacional, mensais, como componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola. Essa medida visa o fomento à cultura e à apreciação da produção nacional, contudo, não é acatada, podendo ser tida como uma das influências ao preconceito quanto à mesma.

O Cinemark conta com a iniciativa Projeta às 7, programação semanal dedicada à obras brasileiras de ficção e documentais, em 20 cinemas em 19 cidades. As exibições acontecem todos os dias, de segundo a sexta-feira, às 19 horas, sendo possível 50% de desconto na entrada se o cliente possuir o cartão Cinemark Mania.

Fontes: SESCSP, FAPESP